29.6.09

Dupla personalidade na ficção e na doença mental

Abaixo deixo o vídeo do filme Um Lobisomem Americano Em Londres, onde podemos ver a transformação do personagem David em lobisomem. David luta contra a personalidade-lobo, grita por socorro, e por fim a personalidade-lobo vence. E ele se transforma em lobisomem.

ATENÇÃO: ESTE VÍDEO CONTÉM CENAS FORTES, DESACONSELHÁVEIS PARA CRIANÇAS.

Na doença mental também há lutas íntimas. Na doença mental muitas vezes eu lutei contra uma segunda personalidade... ao ver a transformação de David eu não posso deixar de pensar em minhas próprias crises. Quando duas ou mais personalidades duelavam dentro de mim. E quantas vezes esse duelo não acontece ainda hoje em dia?

27.6.09

Distimia

Distimia é uma forma de desordem de humor da depressão que se estende por pelo menos dois anos, e se caracteriza pela falta de prazer ou divertimento na vida. Difere-se da depressão nervosa quanto ao grau dos sintomas. Apesar de geralmente não privar o indivíduo de suas tarefas e obrigações, impede que ele desfrute a vida totalmente.

Os traços essenciais da distimia são o estado depressivo leve e prolongado, além de outros sintomas comumente presentes.

Eu comecei a postagem com umas explicações sobre distimia extraídas dos sites Wikipédia e Psicosite. Não apenas porque é importante falar sobre distimia, mas também para explicar que no momento eu me sinto como alguém que sofre distimia. Devo admitir que, apesar de eu me sentir sobre controle dos problemas de minha vida, me sinto doente.

Agora eu estou tomando lítio e risperidona, mas o lítio quase não faz efeito, ou seja, sequer sinto aqueles sintomas que me incomodavam tanto. Ultimamente eu tenho sentido uma indiferença - QUE INCOMODA. Às vezes é como se eu estivesse deixando de SENTIR. Na verdade sinto falta dos sintomas que me incomodavam, mesmo os negativos, pois eles tinham um lado positivo: me davam a sensação de estar vivo.

Dá para realmente confiar nas formas de tratamento disponíveis para doenças mentais?

Como eu tenho falado aqui, o tratamento com psicotrópicos é perigoso para a saúde do paciente psiquiátrico, por vários motivos. Por exemplo, paciente pode usar as próprias drogas psicotrópicas para se matar. Ou o paciente pode acidentalmente tomar uma dose errada e acabar morrendo, graças a periculosidade dos psicotrópicos. Entre outros motivos.

Você já deve saber que Michael Jackson estava tomando vários psicotrópicos antes de sua morte, e uma das suspeitas de sua morte é overdose. Isso está na reportagem Report: Overdose of prescription drugs may have killed Michael Jackson
.

A questão que eu levanto é séria. Eu tenho confiança na psiquiatria ortomolecular. Com certeza não é ofensivo à saúde como a psiquiatria tradicional. Mas será que realmente oferece alívio para o doente? E as outras formas de tratamento disponíveis? Dos tratamentos eu só tenho certeza que a terapia ocupacional tem resultados fantásticos. Muitas pessoas respondem bem até a terapia com psicólogos. Oficinas terapêuticas, por exemplo, funcionam que é uma beleza.

Nos momentos de crise às vezes coisas simples ajudam. Como a presença de uma pessoa amada. Daí a importância de visitar um doente mental. Tem uma pessoa que eu amo muito que apenas sua presença me faz me sentir bem. E eu pretendo ser bem egoista em admitir que eu vou aproveitar sua presença até quando eu puder. (Pois não sei se minha presença a agrada e não sei até quando poderei disfrutar de sua presença.)

Mas apesar da eficiência da terapia às vezes é realmente necessário dar alguma coisa para a pessoa tomar, para aliviar o sofrimento psíquico. Temos substâncias confiáveis para dar para o doente mental?

25.6.09

Novela das 8 retrata paciente psiquiátrico como violento

Nós temos uma novela que tenta retratar como um paciente psiquiátrico é e se sente. É a novela Caminho das Índias. Porém a novela que aparentemente fazia um trabalho razoável perdeu a linha e colocou esse paciente psiquiátrico praticando uma violência que não é comum ao paciente psiquiátrico. O personagem Tarso deu um tiro num homem! Para quem não conhece a doença mental, saiba que aquela cena foi um absurdo. Pois um paciente psiquiátrico em crise está perdido em delírios, e não teria a frieza de pegar uma arma, mirar e acertar alguém. Quem acerta pessoas desse jeito talvez sejam os psicopatas.

Certamente a culpa desse fiasco não é da Glória Perez, autora da novela. Certamente a culpa é dos psiquiatras e profissionais de saúde mental que estão por trás da novela.

A Metamorfose - Como é se sentir estranho

Para dar uma idéia de como o paciente psiquiátrico se sente em crise, deixo um trecho do livro A Metamorfose, de Franz Kafka. A forma que o personagem se sente se assemelha bastante a como o paciente psiquiátrico se sente. Muitas vezes o paciente psiquiátrico sabe que está diferente, estranho, mas não sabe como comunicar isso para os outros. E os outros não sabem como tirar essa informação dele.

Uma manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em rijos segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a pontos de resvalar completamente. As inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, comparadas com o resto do corpo, agitavam-se desamparadamente perante os seus olhos. “Que me aconteceu?”, pensou.

(...)Gregor teve um choque ao ouvir a sua própria voz responder-lhe, inequivocamente a sua voz, é certo, mas com um horrível e persistente guincho chilreante como fundo sonoro...

(...)A sua decisão de partir era, se possível, ainda mais firme do que a da irmã. Deixou-se ficar naquele estado de vaga e calma meditação até o relógio da torre bater as três da manhã. Uma vez mais, os primeiros alvores do mundo que havia para além da janela penetraram-lhe a consciência. Depois, a cabeça pendeu-lhe inevitavelmente para o chão e soltou-se-lhe pelas narinas um último e débil suspiro.


Como eu estou

Estou com saudades dos efeitos colaterais do lítio e não suporto mais a calma da Risperidona. Tenho alternado momentos de normalidade e momentos de apatia. Em certos momentos eu senti coisas estranhas que nunca tinha sentido, ou melhor, às vezes eu deixei de sentir. Em certo momento a comida não tinha gosto de nada, em outro eu olhava para mulher e parecia que eu não estava olhando para mulher. Pois não havia o menor desejo. Nota: não sentir desejo é diferente de estar impotente. Mas na minha vida em geral tudo vai MUITO bem. Principalmente porque eu estou muito entusiasmado com o movimento dos usuários de saúde mental que estão mostrando trabalho. Apesar de eu estar muito ocupado, está tudo bem.

Psicólogo Desastrado

Hoje no grupo de medicação do CAPS a psiquiatra faltou e ficou coordenando o grupo um psicólogo. Eu observava a forma que ele buscava manipular o que as pessoas dizem que sentem. Impressionante. Quando eu disse que estava com dificuldades para me adaptar às mudanças de medicação ele logo tentou ligar isso aos problemas da mudança de direção do CAPS e à interrupção que haverá nos cursos da escola de informática. Impressionante. Eu nem estava pensando nisso. Custava ele aceitar que eu estou realmente com dificuldades para me adaptar?

Interessante a forma que ele vai arrumando coisa ruim para justificar o nosso mal-estar. Eu já estava tendo problemas para me ajustar às mudanças da medicação bem antes desses problemas. Que psicólogo desastrado. Que forma de abordagem mais desastrada. Parecia um urubu escavando coisa ruim. Porque não foi legal relembrar esses probleminhas. Estragou meu dia. É por isso que eu prefiro não me tratar com psicólogos. Na verdade eu já tinha me preparado há meses para esses problemas. Tenho dinheiro guardado para me garantir nos momentos mais difíceis e tudo. Estou tranquilo. Eu só estou com uma nova preocupação. Como limpar o CAPS de profissionais mexeriqueiros como esse. Ou melhor, como fazer com que esses profissionais mudem sua forma de abordagem.

(NOTA: Essa postagem foi mudada, pois alguns profissionais de saúde mental tinham se sentido ofendidos. E francamente eu não quero arrumar inimizades com profissionais de saúde mental. Isso não ia ser positivo para a luta por melhor tratamento e igualdade, que está acima de minhas revoltas e rancores.)

17.6.09

Nova direção no CAPS Rubens Corrêa

Ontem foram apresentadas ao CAPS a nova diretora (Dayse), a nova coordenadora técnica (Fabiana) e a nova administradora (Sílvia). Formando assim a nova direção do CAPS.

Infelizmente as coisas aconteceram às pressas e sem a devida consideração com os usuários. Os usuários foram informados em cima da hora sobre a demissão da antiga direção. Primeiro já tinham demitido a diretora e nem perderam tempo avisando aos usuários. Os coordenadores de saúde mental responsáveis por essa demissão não se preocuparam em informar aos usuários antes. Nem se preocuparam em sondar a opinião dos usuários antes. Esses coordenadores de saúde mental agiram de forma autoritária, como estão acostumados a fazer.

A administração da antiga direção do CAPS realmente não estava muito boa, mas não estava pior que as anteriores. Os usuários do CAPS, inclusive eu, apreciavam muito o trabalho das técnicas de saúde mental que formavam a direção.

Por exemplo, falemos da administradora e da coordenadora técnica, que foram demitidas depois. Enquanto elas não faziam uma administração maravilhosa, faziam oficinas, que outros técnicos não faziam. Com a saída delas não sei se vamos encontrar alguém disposto a assumir oficinas. O problema não é elas terem deixado a direção. O problema principal é as terem demitido sem consultar os usuários, sem levar em consideração os usuários do CAPS e a carência técnica do CAPS sem tais profissionais.

Indignados os usuários fizeram um abaixo-assinado pela permanência da administradora e da coordenadora técnica. Mas já era tarde demais.

Para as novas diretoras eu desejo sorte, pois administrar um CAPS é difícil. Pois poucas verbas vão para os CAPS. Não fazem obras nos CAPS (pelo menos é assim no nosso CAPS). O nosso CAPS está caindo aos pedaços. Mas como culpar a direção? A culpa é da indiferença desses coordenadores de saúde mental, que fazem tudo na surdina.

Oficina da fé - CAPS Livramento

Encontrei no blog http://capslivramento.blogspot.com a oficina que há tempos eu tenho reivindicado aqui: A Oficina da Fé! Isso acontece no CAPS de Livramento, Bahia. Um técnico de saúde mental acompanha os usuários até a igreja, como terapia! Desejo que eles possam expandir tal oficina, atendendo as diferenças religiosas.

A propósito, o blog http://capslivramento.blogspot.com é muito interessante. Deem uma olhada. É feito por usuários de saúde mental. O blog é parte de uma oficina chamada blogterapia. A oficina é coordenada por uma psicopedagoga.

13.6.09

Condições mínimas para um hospital psiquiátrico

Abaixo deixo o vídeo que mostra uma clínica psiquiátrica da França. Tem algumas das condições mínimas para se tratar de verdade um paciente psiquiátrico. O vídeo está em francês, mas as cenas falam por si. No vídeo você pode ver uma coisa que deveria ter em hospitais psiquiátricos: uma câmera. Não somente para vigiar os pacientes, mas também para vigiar os funcionários do hospital para evitar maus-tratos. Podiam colocar câmeras nos hospitais psiquiátricos e transmitir em rede de televisão ou Internet. Aí os funcionários dos hospitais iam ter vergonha de maltratar pacientes e teriam vergonha de deixar o ambiente imundo também.

O que podemos ver também é uma sala de esportes. Paciente psiquiátrico tem que fazer exercício. Isso ajuda a impedir que o paciente adquira vícios nocivos na internação, como o do cigarro, por exemplo. Nessa clínica os pacientes têm quartos individuais. Eu não acho esse um conforto essencial, mas por que não? Gostaria de lembrar que o hospital francês mostrado no vídeo é PÚBLICO.

11.6.09

Bispo do Rosário: doente mental, artista ou um escolhido de Deus?

Abaixo o vídeo de Arthur Bispo do Rosário. A psiquiatria acredita que ele era um esquizofrênico paranóico. Será que ele era mesmo? Ou será que ele não era o que ele acreditava ser? Será que ele não era mesmo um escolhido de Deus?



O vídeo do Bispo do Rosário é para refletirmos no que deixamos a psiquiatria chamar de doença mental. Ou loucura. Bispo do Rosário era louco? Se ele era realmente louco ser louco é a coisa mais grandiosa do mundo. Para fazer toda aquela arte fantástica só com supervisão divina. Bispo do Rosário não tinha nenhuma doença mental. Sem dúvida nenhuma Bispo do Rosário tinha acompanhamento dos seres dos céus.

"Sou maluco para te amar e louco para te salvar"

Chegamos ao absurdo de chamar o Profeta Gentileza de louco. Tanto que Profeta Gentileza é o nome de um CAPS aqui no Rio de Janeiro. O CAPS de Inhoaíba. Profeta Gentileza era outro iluminado. Bem, insistimos em chamar iluminados de loucos. Desse jeito ser louco é um luxo. Chamar o Bispo do Rosário e o Profeta Gentileza de loucos... Se eles foram loucos eu com certeza não sou louco, pois não chego aos pés deles. Não tenho toda a capacidade para ser louco.

Sobre internação e tratamento psiquiátrico

O blog especial do Caminho das Índias Diário de Bordo deixou uma postagem interessante sobre internação e tratamento psiquiátrico. Vale a pena conferir. Fala sobre a forma que o paciente psiquiátrico é internado: dificilmente por vontade própria e muitas vezes levado por familiares por vergonha ou para evitar sofrimento. E nas internações os pacientes adquirem novos hábitos nocivos, como o vício de fumar. Se o hospital psiquiátrico quer sobreviver como instituição séria deverá aprender a convencer os pacientes a aceitar a internação para o seu bem. E vão ter que aprender a controlar o ambiente, de forma que as pessoas não adquiram vícios piores que a doença mental em si.

E é claro que está mais do que na hora de termos remédios de verdade para o tratamento da doença mental. Ou seja, algo que não cause outras doenças mentais e que não vicie nem seja usado como droga. Como droga sim. Psicotrópicos são usados por muitas pessoas para se obter prazer, ficar doidão ou conseguir melhor performance na vida, ficando mais ativo. Isso não é remédio. É droga. E droga perigosa. Veja mais sobre o uso dos psicotrópicos no blog http://opacientepsiquiatrico.blogspot.com/. Mais especificamente nas postagens Testes mascaram ineficácia de antidepressivos e Nova onda dos remédios para o cérebro E veja a postagem EUA divulgam listas de remédios suspeitos de causar danos à saúde. Lá você vai ver que eles primeiro receitam as drogas para as pessoas e depois descobrem que as drogas podem causar danos para a saúde.

Mas eu volto a escrever sobre internação e medicação psiquiátrica, e sobre hospitais psiquiátricos. Me aguardem.

4.6.09

Reforma psiquiátrica X Internação

Na publicação do dia 4 de junho de 2009 eu divulguei aqui um programa especial que ia passar na TV no dia 10 de junho. O programa foi adiado para dia o 17 de junho. Foi um debate sobre a reforma psiquiátrica. Participaram do debate Iracema Polidoro em defesa da Reforma Psiquiátrica e Ferreira Gullar contra a Reforma.

Iracema Polidoro é familiar de doente mental há muito respeitada por sua luta em defesa dos usuários de saúde mental. Ela é presidente da Associação de Parentes e Amigos dos Pacientes do Complexo Juliano Moreira (Apacojum). Está defendendo a Luta Antimanicomial há décadas. Ferreira Gullar é um poeta. Talvez você conheça. Pois eu só vim a conhecê-lo depois que eles escreveu uns artigos polêmicos defendendo internação psiquiátrica. Veja abaixo os artigos mais polêmicos dele.

Campanha contra a internação de doentes mentais é uma forma de demagogia


"A CAMPANHA contra a internação de doentes mentais foi inspirada por um médico italiano de Bolonha. Lá resultou num desastre e, mesmo assim, insistiu-se em repeti-la aqui e o resultado foi exatamente o mesmo.
Isso começou por causa do uso intensivo de drogas a partir dos anos 70. Veio no bojo de uma rebelião contra a ordem social, que era definida como sinônimo de cerceamento da liberdade individual, repressão “burguesa” para defender os valores do capitalismo.

A classe média, em geral, sempre aberta a ideias “avançadas” ou “libertárias”, quase nunca se detém para examinar as questões, pesar os argumentos, confrontá-los com a realidade. Não, adere sem refletir.

Havia, naquela época, um deputado petista que aderiu à proposta, passou a defendê-la e apresentou um projeto de lei no Congresso. Certa vez, declarou a um jornal que “as famílias dos doentes mentais os internavam para se livrarem deles”. E eu, que lidava com o problema de dois filhos nesse estado, disse a mim mesmo: “Esse sujeito é um cretino. Não sabe o que é conviver com pessoas esquizofrênicas, que muitas vezes ameaçam se matar ou matar alguém. Não imagina o quanto dói a um pai ter que internar um filho, para salvá-lo e salvar a família. Esse idiota tem a audácia de fingir que ama mais a meus filhos do que eu”.

Esse tipo de campanha é uma forma de demagogia, como outra qualquer: funda-se em dados falsos ou falsificados e muitas vezes no desconhecimento do problema que dizem tentar resolver. No caso das internações, lançavam mão da palavra “manicômio”, já então fora de uso e que por si só carrega conotações negativas, numa época em que aquele tipo hospital não existia mais. Digo isso porque estive em muitos hospitais psiquiátricos, públicos e particulares, mas em nenhum deles havia cárceres ou “solitárias” para segregar o “doente furioso”. Mas, para o êxito da campanha, era necessário levar a opinião pública a crer que a internação equivalia a jogar o doente num inferno.

Até descobrirem os remédios psiquiátricos, que controlam a ansiedade e evitam o delírio, médicos e enfermeiros, de fato, não sabiam como lidar com um doente mental em surto, fora de controle. Por isso o metiam em camisas de força ou o punham numa cela com grades até que se acalmasse. Outro procedimento era o choque elétrico, que surtia o efeito imediato de interromper o surto esquizofrênico, mas com consequências imprevisíveis para sua integridade mental. Com o tempo, porém, descobriu-se um modo de limitar a intensidade do choque elétrico e apenas usá-lo em casos extremos. Já os remédios neuroléticos não apresentam qualquer inconveniente e, aplicados na dosagem certa, possibilitam ao doente manter-se em estado normal. Graças a essa medicação, as clínicas psiquiátricas perderam o caráter carcerário para se tornarem semelhantes a clínicas de repouso. A maioria das clínicas psiquiátricas particulares de hoje tem salas de jogos, de cinema, teatro, piscina e campo de esportes. Já os hospitais públicos, até bem pouco, se não dispunham do mesmo conforto, também ofereciam ao internado divertimento e lazer, além de ateliês para pintar, desenhar ou ocupar-se com trabalhos manuais.

Com os remédios à base de amplictil, como Haldol, o paciente não necessita de internações prolongadas. Em geral, a internação se torna necessária porque, em casa, por diversos motivos, o doente às vezes se nega a medicar-se, entra em surto e se torna uma ameaça ou um tormento para a família. Levado para a clínica e medicado, vai aos poucos recuperando o equilíbrio até estar em condições que lhe permitem voltar para o convívio familiar. No caso das famílias mais pobres, isso não é tão simples, já que saem todos para trabalhar e o doente fica sozinho em casa. Em alguns casos, deixa de tomar o remédio e volta ao estado delirante. Não há alternativa senão interná-lo.

Pois bem, aquela campanha, que visava salvar os doentes de “repressão burguesa”, resultou numa lei que praticamente acabou com os hospitais psiquiátricos, mantidos pelo governo. Em seu lugar, instituiu-se o tratamento ambulatorial (hospital-dia), que só resulta para os casos menos graves, enquanto os mais graves, que necessitam de internação, não têm quem os atenda. As famílias de posses continuam a por seus doentes em clínicas particulares, enquanto as pobres não têm onde interná-los. Os doentes terminam nas ruas como mendigos, dormindo sob viadutos.

É hora de revogar essa lei idiota que provocou tamanho desastre."


Para ver o artigo abaixo em tamanho maior clique nele.


Veja na página da revista Época Doi internar um filho. Às vezes não tem outro jeito

Se você leu os textos vai concordar comigo que Ferreira Gullar foi muito infeliz no que disse. Ele chegou a chamar Paulo Delgado de idiota. Para quem não sabe, Paulo Delgado é o autor da lei 10.216.

A lei 10.216 é ótima. O grande problema é que ela não é respeitada. Não é seguida. Mas eu concordo com ele quando ele diz que muitos pacientes estão virando mendigos, etc. Isso acontece pelo não cumprimento da lei 10.216. O que tipos como Ferreira Gullar deveriam fazer era usar seu grande talento para lutar para que a lei seja cumprida.

Para quem não sabe existe o CAPS III, que serve para substituir os antigos hospitais psiquiátricos. Os CAPS III devem ter leitos psiquiátricos, onde os pacientes poderão receber assistência sem ter que ficar dias ou meses internado. O único problema é que os CAPS III existem em pouquíssimos lugares. Por enquanto é só um projeto.

(NA ÉPOCA EM QUE ESTA PUBLICAÇÃO FOI FEITA NÃO HAVIA NENHUM CAPS III NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. PORÉM, HOJE EM DIA, EM MAIO DE 2013, JÁ EXISTE UM CAPS III NO ALEMÃO E OUTRO NA ROCINHA, NO RIO DE JANEIRO. PORÉM PARA QUE A IDEIA DOS CAPS III REALMENTE FUNCIONE SERÁ NECESSÁRIO TRANSFORMAR TODOS OS CAPS MENORES EM CAPS III E SUBSTITUIR O MÁXIMO POSSÍVEL HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS POR CAPS III. MAS OUTROS PROBLEMAS GRAVES SURGIRAM: É INSUFICIENTE O NÚMERO DE PSIQUIATRAS NOS CAPS. NÃO É POSSÍVEL HAVER UM BOM ATENDIMENTO SEM PESSOAL.)

Eu continuarei falando sobre isso. Pelo jeito Ferreira Gullar escreveu aqueles absurdos simplesmente por estar mal informado.

3.6.09

Transtorno bipolar do humor - A fase depressiva

"É de certa forma o oposto da fase maníaca, o humor está depressivo, a auto-estima em baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física está comprometida, pois a sensação de cansaço é constante. As idéias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção é difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas em geral é perdido bem como o prazer na realização daquilo que antes era agradável. Nessa fase o sono também está diminuído, mas ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou descanse, uma vez que o paciente acorda indisposto. Quando não tratada a fase maníaca pode durar meses também."

"O individuo deprimido em geral se sente abatido, quieto e triste. Pode dormir muito, como uma fuga do convívio, reclamar de cansaço em tarefas simples como escovar os dentes, apresentar traços de baixa auto-estima e de sentimentos de inferioridade. Demonstra pouco interesse pelos acontecimentos e coisas e pode se isolar da família e amigos.

O indivíduo pode se sentir nesta fase culpado por erros do passado, e fracassos em sua vida e de seus familiares. Pode haver irritabilidade, lamentos e auto-recriminação.

Pode haver um distúrbio do apetite tanto para aumentá-lo, como para diminuí-lo. O deprimido pode apresentar queda na sua imunidade, o que o deixa predisposto a contrair doenças.
"

Novamente eu, bipolar, vou comparar o que eu já senti como paciente psiquiátrico com as descrições dos psiquiatras (que é bem diferente do que senti). Sinceramente acho que esses sintomas não estão bem explicados. Isso porque eu acho que já fiquei deprimido, mas é bem diferente do descrito pelos sites PSICOSITE e WIKIPÉDIA, sites que eu consultei e usei como exemplos para essa postagem. Talvez eles tenham dificuldade para expressar a coisa e talvez apenas quem experimentou a depressão possa descrevê-la. Ou talvez o que eu sofri não tenha sido depressão.

O que eu acho que foi depressão foi uma sensação horrível que eu senti após minha primeira internação (NÃO NOS SURTOS), mas essa sensação com certeza foi causada pela droga psicotrópica HALDOL. Pois eu reclamei com a psiquiatra da sensação e ela suspendeu o HALDOL e eu voltei a me sentir normal NO DIA SEGUINTE.

Eu temo que os psiquiatras considerem fase depressiva o mau-humor simples que eu já senti várias vezes. Eu acho que mau-humor todo mundo sente. Mas posso garantir que o mau-humor que eu já senti muitas vezes em minha vida não é nada perto da sensação que senti após minha primeira internação. Eu não tenho vergonha de me sentir mal-humorado, nem considero isso doença. Nenhuma das indisposições, dores ou doenças que eu já senti em minha vida pode ser comparada a horrível sensação que eu senti após a primeira internação.

E todas os sintomas descritos pelos sites de psiquiatria aqui mencionados parecem coisas simples comparadas à dor que senti naquele momento. Dores, tristezas e indisposições fazem parte da vida. E o que eu senti naquele momento, com certeza, não faz. Não era uma dor. Nem uma indisposição. Mas ao mesmo tempo parece que era. É difícil de explicar.

Aliás, depois do que eu senti naquele momento eu acho que se sentir triste é até saudável. É sinal de que você está vivo. Assim como se sentir eufórico mostra que você está vivo.

Bem, vou explicar a condição da minha depressão. Depressão essa que certamente foi causada pelo HALDOL. Como eu disse, os sites WIKIPÉDIA e PSICOSITE estão confusos em suas descrições da depressão. Tanto que você pode observar que um diz o contrário do outro. Naquele momento eu não me senti triste de forma alguma. Na verdade me senti indiferente. (E isso é triste!) Aquela sensação que eu senti era como não estar vivo. Eu tinha dificuldade de me mover e de me concentrar. Meus braços e pernas estavam enrijecidos, difíceis de mexer. Mas não sentia nenhum cansaço. Devido às dificuldades para andar eu me sentia um velho. Por isso queria ficar deitado o tempo todo, o dia todo. Apesar de ter dificuldade de cair no sono. Só conseguia dormir a noite. Com a medicação eu conseguia dormir horas mais que suficientes, de 8 a 11 horas por dia.

Eu bem que queria fazer as coisas. Estava até entusiamado para escrever, ler, etc. Mas escrever era difícil demais, pois meus dedos estavam rígidos. Ler era bem complicado, pois meus olhos estavam embaçados. E além disso eu estava com uma sensação terrível. Não era a dor que me incomodava mais. Não era a dificuldade de movimento. Era uma sensação inexplicável.

A primeira coisa que eu pensei é que tal sensação era espiritual. Será que a voz que falou comigo quando eu estava em surto estava me punindo por minha maldade? Sentindo tal sensação eu percebi qual deveria ser a sensação do inferno. O que eu estava sentindo era pior que qualquer dor. Eu me mataria para me livrar de tal sensação. Mas eu tinha um medo. Antes eu nunca tinha imaginado que uma sensação tão ruim era possível. Eu já não tinha medo de nada, pois não achava que algo pudesse ser pior. Eu só tinha medo de uma coisa: de ficar assim para sempre. Portanto se eu me matasse, talvez eu fosse para o inferno de vez. Um inferno de sofrimento eterno, como descrito pela bíblia.

Eu até fui à igreja na esperança de ser curado daquela agonia. Eu aceitava fazer qualquer coisa. Sem sucesso. Mas eu estava cheio de vontade de viver e de me recuperar. Daí a ficha caiu e eu percebi o lógico: eu não estava assim por motivos espirituais. Eu estava assim por causa das drogas psicotrópicas que eu estava tomando. Reclamei com os familiares. Reclamei com os médicos. Por fim uma médica foi prudente o bastante para suspender o HALDOL, antipsicótico.

Com a suspensão da droga eu melhorei da noite pro dia. A horrível sensação foi embora!

Bem, essa é a história de minha depressão.