18.8.11

Manicômios, hospícios, hospitais psiquiátricos e o terror

Aquela mãe repetia “Meu paciente morreu, mas não tenho nenhum remorso. Sei que fiz tudo que poderia fazer.”

Eu me compadecia por ela, pois sabia que, no fundo, o remorso a consumia. Me compadecia, pois sabia que ela era uma boa familiar. Tanto que somente um bom familiar sentiria remorso, e continuaria lutando para que outros não tenham o destino de seu familiar, como essa mãe fazia.

E lamentava que, aquele rapaz que morrera, paciente psiquiátrico, tinha perdido a mãe antes de morrer. É que a mãe já não o via como filho, e sim como paciente. Ela só o chamava de paciente, e raramente de filho.

Aquela mãe tinha se tornado enfermeira do filho, psiquiatra, psicóloga, ou coisa assim. Não era mais mãe. E ele não era mais filho dela. Era paciente. Não era mais família. Aquele rapaz continuava internado mesmo quando voltava para casa da internação.

Esse é o HOSPÍCIO EXTERNO. O hospício fora da internação.

Agora eu vou contar minha experiência não do ponto de vista de um paciente psiquiátrico ou ex-paciente psiquiátrico. Mas sim do ponto de vista de familiar. Pois como já disse tenho familiares que morreram em instituições psiquiátricas.

Daí que de meu ponto de vista de familiar é claro que eu NUNCA poderia ter sofrido como meus familiares que morreram sofreram. E realmente seria hipocrisia dizer que sofri tanto assim como familiar. Como sei que ninguém da família sofreu como esses falecidos pacientes psiquiátricos da família.

O meu tio que morreu mais recentemente tinha crises constantes e por isso foi abandonado pela família, sendo largado nos hospícios da vida. Ele dava muito trabalho, pois tinha crises constantes.

Com a chegada das leis da Reforma Psiquiátrica, por volta de 2001, ele passou a morar numa residência terapêutica. Mas pelo que me disseram ele era acompanhado praticamente noite e dia por enfermeiros nessa residência terapêutica.

Enfim, essa não é a vida que eu ia querer para mim, e provavelmente você também não ia querer para você. Ele não tinha mais o afeto dos familiares, e praticamente foi condenado a um HOSPÍCIO EXTERNO, pois era monitorado por profissionais de saúde mental dia e noite.

E ele deve ter morrido com sentimentos de culpa. Deve ter pensado “poxa, eu fui um peso para minha família. Não valho nada.” Realmente esse é um dos piores destinos que alguém pode ter.

Quanto ao outro tio, o destino foi mais negro. Ele morreu no hospício. No início da década de 90. Quando estava bem longe de haver a Reforma Psiquiátrica, que fiscaliza UM POUCO os hospícios.

Ele era tranquilo. Estava domado. Se comportava bem. E quando começava a reclamar era internado rapidinho. Por isso suas internações eram constantes. Vivia mais no hospício que em casa.

Naturalmente quando ele morreu no hospício eu logo vi que era óbvio que aquilo não era morte natural. Não era tão ingênuo, apesar de jovem. Pensei que a família ia começar um protesto sério contra isso, mas quebrei a cara.

O que eu, um jovem que era tão pouco respeitado, poderia fazer contra isso? Decidi deixar para tomar providências anos depois.

Claro que na época eu suspeitava que aquela morte não tinha sido uma “complicação” natural. Na época eu ainda não tinha sido internado no hospício. Hoje eu tenho certeza que meu tio merecia um pouco mais de atenção na questão de sua morte.

Ele não morreu num SPA. Morreu num hospício. Talvez eu deva descrever como as pessoas que morrem no hospício são tratadas, a partir de minha experiência de internação.

Na hora do café da manhã, no sanatório, eu me espantei com uma cena de filme de terror. Enfermeiros, ou auxiliares de enfermagem levavam uma figura enfaixada. A figura parecia uma múmia.

Ao levar a figura os enfermeiros, volta e meia, batiam com a cabeça da figura no corrimão, por acidente. Riam, faziam piadas.

Eu já acreditava que aquilo era uma brincadeira de mau-gosto. Como poderia ser real? Mas para meu total terror, eu vim a saber depois que aquela múmia era um paciente psiquiátrico que tinha morrido. Tropeçou no banho!!! Se você visse a estrutura dessa figura você ia duvidar desse tropeção fatal, obviamente.

Claro que ficava cada vez mais claro para mim que lá dentro minha vida não valia nada. Uma pessoa morreu num hospício, dito hospital psiquiátrico, e nem uma perícia decente houve.

O corpo não deveria ser removido só pela polícia? O local da morte não deveria ser interditado? Não deveria haver uma investigação quanto a causa da morte? A polícia não deveria ir ao local? Nada disso aconteceu.

Ou será que alguém acha que paciente psiquiátrico não merece esses procedimentos que as pessoas “normais” têm?

Esse texto é parte de um documento escrito pelo autor sobre a INSTITUCIONALIZAÇÃO e pode ser lido na íntegra no blog http://paciente-psiquiatrico.blogspot.com/. Obrigado pelos comentários de todos. Esta publicação foi primeiro publicada em 07 de Janeiro de 2010 e foi editada em 18 de agosto de 2011.

5 comentários:

  1. Anônimo12:54 PM

    Esta série de vídeos no youtube é interessante demais:
    PSIQUIATRIA INDUSTRIA DE LA MUERTE
    Não consegui encontrar toda a sequência em português. Fala sobre as torturas nos hospitais psiquiátricos, mortes, abusos sexuais e etc.

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  2. Anônimo12:06 PM

    Realmente bem interessante essa série de vídeos. Pena que só esteja disponível em outras línguas.

    Vou ver se posto aqui algum dia desses.

    Obrigado pela dica.

    E no futuro eu falarei sobre abusos de ORDEM SEXUAL que presenciei muito nos hospitais psiquiátricos.

    E que fica invisível ao mundo externo.

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  3. Anônimo7:42 PM

    Olá,já se passaram 21 anos,que fui covardemente internada num hospital psquiatrico em Porto Alegre,por um namorado que não aceitara o fim da relação.Depois de me violentar sexualmente diversas vezes em sua chácara e fazer terror psicológico,onde me deixara completamente exausta psiclógica e fisicamente,fui guiada sem saber a esse tal hospital.Lá,minhas roupas e meus pertences(bolsa com tudo que tinha dentro}foram surrupiados,depois de me doparem,e nesse sono profundo,detectei ao despertar que fui brutalmente violentada.Já não tinha mais minhas peças íntimas e nem a roupa que lá chegara.Ao ir no banheiro dectei-me ardida e dolorida como nunca havia me sentido.Colocaram no leito ao lado do meu um paciente adormecido,talvez pra dá a impressão que foi ele que me violentou,mas,a impressão forte que tenho é que foram os próprios infermeiros.Ao ser retirada do hospital por uma conhecida que minha família arranjou(sou de Fortaleza)no fim da tarde do ia que entrei,fui observada pela médica que me atendeu,com um olhar de profunda penalização,como se soubesse (pela fragilidade da minha expressão e dos panos que me cobriam,que não era a roupa que entrei)o que havia acontencido comigo durante o dia e a tarde que lá passei,naquele sono profundo,induzido pelas injeções que eles dão.Hoje ,agradeço a Deus,o fato de ter estado inconsciente,durante aquele violencia sexual no hospital,pois,do contrario não sei como seria conviver com tal lembrança.Saí do hospital sem voz,e assim fiquei por alguns dias.Portanto,embora inconciente,de alguma forma captara toda angustia e desespero daquele momento.E hoje lendo sobre a violencia dentro dos muros dos hospicios,senti vontade de botar pra fora esse trauma.Obrigada pela oportunidade!

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  4. Anônimo10:49 AM

    Nos CAPS acontecem os mesmos maus tratos.

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  5. Olá boa noite!
    Adorei seu blog, não consegui participar, mas fiz uma homenagam no me blog para você.Espero que goste.Bjo na alma.

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