26.6.08

TRANSTORNOS MENTAIS...OU TRANSTORNOS GOVERNAMENTAIS?!

Bem... eu acabo de pegar o resultado de minha litemia (exame para quem toma o remédio psiquiátrico lítio). Está dentro do intervalo terapêutico. O resultado foi 0,77 mEq/L. O intervalo terapêutico nos hospitais europeus e dos Estados Unidos é entre 0,5 mEq/L e 1,2 mEq/L. Mas como no Sistema Único de Saúde as coisas são um pouquinho diferente, o intervalo terapêutico é entre 0,6 mEq/L e 1,2 mEq/L. Hum... deve ser por isso que eu estava quase morrendo intoxicado...

Bem... para quem não sabe, intervalo terapêutico é a dosagem recomendada do remédio para o tratamento com lítio. E se essa dosagem passar de 1,2 mEq/L a pessoa pode morrer de intoxicação. Remedinho sinistro, não? (Se é que se pode chamar essa droga de remédio!)

Interessante... eu tomo 2 comprimidos e meio. Tenho que partir o comprimido. E de propósito escolhi pedaço menor do remédio no dia do exame.

Minha médica teve de ir trabalhar em outro estado para não morrer de fome com o que ela ganha no Rio. Por isso vou ter que tentar convencer as outras médicas que sobraram a reduzir um pouco a medicação, afinal, eu posso tomar uma dosagem menor, de uns 0,6mEq/L. Do jeito que está, eu acho que 0,77mEq/L já é intoxicação demais para mim. E eu preciso viver até o próximo Encontro Nacional da Luta Antimanicomial, pelo menos.

Mudando de assunto; outro dia eu explicava para uma pessoa que me foi apresentada sobre a situação da saúde mental no Brasil e depois que eu expliquei o termo transtorno mental, ele emocionado disse, "não existe transtornos mentais... existem diferenças."

Meu amigo... Eu diria mais do que isso. Não existem transtornos mentais. Existem transtornos governamentais. Transtornos de um governo que maltrata tanto seu povo ao ponto de levá-lo à loucura... e à doença mental.

23.6.08

O EMOCIONAL DO PACIENTE

Como eu já mostrei várias vezes nesse blog, e uma vez mais mostrei no blog http://pacientepsiquiatrico.wordpress.com, remédios psiquiátricos são coisas muito sérias.

Um erro na medicação pode significar a morte do paciente. E doença mental precisa da ajuda de remédios sim, mas com certeza ninguém precisa de tomar remédio pelo resto da vida para ficar bom. Se a pessoa tiver um bom acompanhamento de terapeutas, médicos, psicólogos e uma inserção no mundo do trabalho com o treinamento apropriado a suas necessidades, com certeza os remédios só serão necessários nos momentos mais graves da crise.

O O problema é que esse tratamento maravilhoso que eu descrevi acima NÃO EXISTE. Sairia muito caro para os nossos políticos. E não é só o caso do dinheiro. O preconceito teria que diminuir muito. E o preparo dos psiquiatras, psicólogos e terapeutas teria que melhorar muito!

Esses doutores teriam que aprender, por exemplo, que em uma crise o que o doente mental vê é verdade para ele doente mental. Ou seja, a alucinação parece verdade. Então o médico não tem que tentar convencer o doente mental de que o que ele viu é mentira.

O médico tem que aprender a garantir para o doente mental que ele, médico, vai apoiar o doente mental, mesmo quando ele não consegue ver o que o doente vê. Pense um pouco: nesse momento de desespero o que a pessoa precisa é de apoio. E não de saber que o que ela jura que vê é mentira. Porque para um doente mental em crise, o que ele vê é tão realístico que ele doente mental podia jurar que é verdade.

Portanto, meu amigo usuário de saúde mental: NUNCA PARE DE TOMAR REMÉDIO! E mesmo se você tiver certeza de que está bem, não pare. O problema que gera uma recaída de um paciente psiquiátrico na maioria das vezes não é porque ele deixa de tomar remédio.

Não. Muitas vezes ele tem crise pela falta de apoio. É que os profissionais de saúde mental falam tanto que se ele parar de tomar remédio ele entra em crise. Ele acaba entrando em crise só pelo terror que esses doutores causam.

apenas imagine: fica alguém repetindo o tempo todo "se parar o remédio vai entrar em crise! Se parar o remédio vai entrar em crise!" Por que esses doutores não falam "se parar o tratamento vai entrar em crise!" E tratamento não é só remédio. Tratamento é tudo aquilo que eu falei acima.

21.6.08

CRISES, DIAGNOSTICOS, ETC...

Quando eu falo de tratamento muitas vezes as pessoas confundem. Eu sou contra a idéia de que paciente psiquiátrico deve tomar drogas psiquiátricas pelo resto da vida, mas não aconselho ninguém a parar de tomar remédios sem ordens médicas. Já vou explicar o motivo.

Antes vou fazer um resumo de minhas próprias crises para que todos possam entender porque eu arrogantemente digo que os métodos de tratamento da saúde mental são arcaicos. E porque eu digo que o preparo dos psiquiatras e dos psicólogos é insuficiente. Vou buscar deixar bem claro como ocorre minha crise, e como o diagnósticos e tratamento são feitos.

A crise acontece numa espécie de mundo paralelo. Eu vou descrever mais ou menos como foram as crises em que eu necessitei de internação. As crises eram marcadas por uma certa perturbação, em que parecia que as coisas me atacavam, ou seres me atacavam. Essa perturbação parece ocorrer quando eu estou muito cansado. E a crise tem seu ápice ao cabo de 3 dias sem dormir, quando eu já estou bem cansado da perturbação. A coisa é bem complexa, por isso escolhi o exemplo mais fácil de entender:

Em um momento crucial de minha primeira crise eu fui apertar o botão para ligar o rádio... em vez do rádio ligar, a TV que ligou! Daí eu vou desesperado desligar a TV e... o rádio liga. Daí eu volto assustado para desligar o rádio, aperto o botão do rádio e... o videocassete liga sozinho. Daí eu fico transtornado tentando descobrir o que está acontecendo. Daí eu tento associar. Talvez se eu apertar o botão do videocassete o rádio ou a TV desligue, pensei. No início pareceu funcionar. Mas no final, descobrir que botão desligava que aparelho ficou mais difícil que adivinhar combinação de cofre... Bem, coisas desse tipo acontecia durante toda a crise, 24 horas por dia. Me responda. Se coisas desse tipo acontecesse com você, você não teria vontade de quebrar tudo?

Pois bem. Nos diagnósticos os médicos parecem ignorar umas coisas essenciais:
Para o tratamento funcionar mesmo, de uma forma inclusiva, o médico deverá dar um voto de confiança ao paciente. Logo ele deverá confiar no paciente o máximo possível, mesmo quando ele acha que não deve. Pois só dessa forma o paciente confiará nele. E se o paciente não confiar nele o tratamento será impossível. Portanto, médico, evite achar que seu paciente está mentindo por causa da doença.
Os médicos brasileiros não gostam de falar sobre os remédios e seus efeitos negativos. E às vezes isso pode ser bem perigoso para o paciente.

Veja também o blog http://pacientepsiquiatrico.wordpress.com/, onde você vai ver algo mais sobre os antidepressivos... e como eles podem levar muitas pessoas ao suicídio. NÃO PERCA, POIS ESTÁ IMPERDÍVEL! E amanhã ou depois eu continuo o tema.

12.6.08

Estratégias para obter justiça no acompanhamento em saúde mental: Leis

Bem, deixo para vocês abaixo uma lei do Código Penal. Eu exibi essa lei no CAPs Rubens Corrêa num momento em que estava havendo muita dificuldade para os usuários (pacientes psiquiátricos) almoçarem.

Art. 136 – Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:

Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Há muito preconceito, e se eu fizesse só uma reclamação iriam dizer que eu estava reclamando por estar em crise. Daí eu arrumei essa lei. Problema resolvido. Todo usuário passou a ser melhor tratado no horário do almoço. O meu raciocínio foi simples. Se ao mostrar a lei eles dissessem que eu estava em crise eu poderia alegar que eu fiquei em crise por está tendo dificuldades para almoçar no CAPs e eles teriam que responder por isso na justiça. E se eles não liberassem a comida e eu entrasse em crise ficaria evidente que minha crise foi causada pela perturbação da falta de almoço. Lógica.

11.6.08

COMAM COM A GENTE, COMAM COM DOENTES MENTAIS

Hoje houve a Assembléia Geral no CAPs Rubens Corrêa.

Portanto eu afixei no quadro de avisos as seguintes sugestões de pauta para ser discutido:

ENQUANTO OS TÉCNICOS COMEM A VONTADE, COM BANDEJA SELF-SERVICE, OS USUÁRIOS COMEM PRATO-FEITO, E ÀS PRESSAS. QUANDO A ALIMENTAÇÃO NO CAPS SERÁ IGUAL?

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO AINDA EXISTEM NO CAPS. QUANDO APARECE ALGO QUEBRADO SEMPRE SE CULPA OS USUÁRIOS. OU ENTÃO SE CULPA OS FUNCIONÁRIOS QUE GANHAM MENOS. (Nota: nunca se coloca técnicos doutores como suspeitos.)

Eu questionei a legitimidade da Assembléia, mais uma vez. Mais uma vez ouvi a desculpa de que os funcionários (incluindo técnicos) não têm tempo para comparecer nas Assembléias, pois o CAPs tem muito movimento. Imagine que me disseram que os técnicos ficam muito ocupados, e por isso, às vezes, não têm tempo de dar atenção aos usuários. Ótimo argumento. O único problema é que o CAPs é um Centro de Atenção Psicossocial, e se não há atenção no CAPs, o CAPs não é CAPs, ou seja, não é legítimo. Mencionei que nas reuniões de supervisão todos técnicos estão convocados, como eu vi no quadro de avisos. Disse que isso acontece porque o pessoal do Conselho de Saúde simplesmente impõe que todos estejam presente. Uma técnica disse que a supervisão é muito importante.

Perguntei se eles não acham que a Assembléia Geral do CAPs não merece ser tratada como muito importante também. Ah, mas eu vou passar para a melhor parte da Assembléia Geral, que teve boa participação dos técnicos dessa vez (intrigados com as minhas sugestões de pauta, que eu afixei no quadro de avisos do CAPs).

A pauta sobre o almoço privilegiado dos técnicos predominou na Assembléia. Eu comecei fazendo as observações sobre as mordomias na alimentação dos técnicos, em contraste com a alimentação desesperada dos usuários. Eu ouvi dos técnicos que isso sempre foi assim, e que é um direito deles, etc. Eu não contestei quando disseram que era um direito deles, simplesmente porque isso é um absurdo, nem tem sentido, logo eu nem ia perder meu tempo falando de direito de trabalhadores, já que os faxineiros, por exemplo, são trabalhadores também, e não têm essas mordomias. Nem os próprios cozinheiros têm. Então isso não é desculpa.

Me perguntaram se eu queria comer com os técnicos. Daí eu disse NÃO, EU QUERO QUE VOCÊS COMAM COM A GENTE. Mencionei um dia de festa de Confraternização no CAPs. O almoço foi servido no pátio. Todas as pessoas sentavam a mesa e eram servidas pelos cozinheiros. O mais incrível aconteceu: apenas dois técnicos sentaram a mesa com os usuários (quando todo mundo deveria sentar junto, afinal, era confraternização). Os outros técnicos pegavam comida da panela e iam comer em outro lugar, longe dos usuários! Infelizmente eles ficaram dessa maneira por causa dessa maldita alimentação separada. Aqueles técnicos aprenderam a se separar dos usuários.

O interessante é quando esses técnicos colocaram que é importante para eles comer separado dos usuários, para poder ter um pouco de paz. Eu entendo. Mas o problema está na alimentação superior dos técnicos, logo injusta. É que não é a mesma comida para todos. Quando os usuários acabam de comer os cozinheiros começam a preparar uma nova comida, colocam toalhinha, etc, etc. Aí está o erro principal. Aí está o problema principal. Eles estão achando normal que, num serviço criado para doentes mentais, técnicos possam comer melhor. Por isso eu sugeri que, se eles não quiséssem comer com os usuários, que comessem depois que os usuários acabassem de comer. Porém sem PAUSA PARA PREPARAR NOVA COMIDA, que fosse da mesma comida que nós usuários estávamos comendo.

Eu sugeri que voltássemos a falar desse assunto outro dia. Deixei claro que a alimentação é separada nos outros CAPs também, e deixei claro que estou ciente do abandono dos coordenadores de saúde mental, que deixam os profissionais de saúde mental a míngua, praticamente sem apoio.

Bem, eu fico por aqui. Eu continuo escrevendo no BLOG http://pacientepsiquiatrico.wordpress.com sobre esse tema e outros relacionados a Reforma. PAZ

10.6.08

LOUCURA NA SAUDE MENTAL

Voltando ao assunto CAPs Rubens Corrêa, eu lidei com o problema da desordem da seguinte forma:

Como a pessoa que pegou o objeto desaparecido da sala do CAPs não se pronunciou, eu dei uma ajudinha para que ela se lembrasse. Afixei um cartaz no quadro de aviso informando que o objeto estava desaparecido.

Caramba! O que não é a comunicação! Logo em seguida o objeto me foi entregue em mãos! Eu segui naturalmente com minhas reivindicações para o CAPs. Afixei cartazes com sugestões de pauta para a assembléia geral do CAPs. Tipo, cobrando que a alimentação seja igual para usuários pacientes e técnicos de saúde mental - pois a alimentação dos técnicos de saúde é bem melhor, é claro.

Claro que essas medidas não são o tratamento de choque que eu prometi aqui. O tratamento de choque será direcionado aos chefões da saúde Mental, que eu não sou tolo de atacar peixe pequeno. Os coordenadores de Saúde a nível federal, estadual e municipal são meus alvos. E são alvos mais fáceis do que se imagina. Isso porque as pessoas que são contra a Reforma Psiquiátrica estão atacando e ganhando terreno... eu não estou do lado dos que são contra a Reforma, mas sei que eles têm uma certa razão quando dizem que certas pessoas estão usando a Reforma Psiquiátrica para se promover.

Porém, como já mencionei, minhas reivindicações podem ser perigosas. Por isso, eu já pedi um exame de litemia, que é usado avaliar a quantidade de lítio no organismo. Lítio é tomado por pessoas diagnosticadas como bipolar, como eu. O perigo não é de eu sofrer uma crise, não! O perigo é que alguém, incomodado com minhas reclamações, pode insinuar que eu estou em crise.

É claro que eu não me preparo apenas com exames. Eu me preparo com lógica e conhecimento jurísdico também. Se por acaso eu realmente entrasse em crise eu processaria o CAPs, ou a Secretaria Municipal de Saúde, ou os dois, alegando que entrei em crise por causa das várias falhas na gestão da saúde mental. Falhas que eu já havia notificado várias vezes, diretamente.

Antes de deixar vocês, quero deixar, mais uma vez, outro blog de outra pessoa que conhece o mundo da saúde mental por dentro. veja e tire suas conclusões. http://maisloucoequemmediz.blogspot.com

PAZ

5.6.08

TRATAMENTO DE CHOQUE

Continuando falando do CAPs Rubens Corrêa:
O evento que aconteceu hoje sobre CAPs, em que se falou também do CAPs Rubens Corrêa, teve a presença de um dos políticos da saúde. O famoso Hugo Fagundes, coordenador de saúde mental no Rio. Como eu disse, ontem todos os técnicos largaram o CAPs para ir a esse evento. Vale dizer que até esqueceram de fechar as portas que outrora eles faziam questão de fechar com muito cuidado.

Deixaram os atendimentos que estavam marcados para lá, e pessoas que estavam com hora marcada tiveram que se virar sem atendimento mesmo. Só não esqueceram de deixar uma ordem para a última técnica que ficou lá: não deixe usuários no serviço. Como a situação é bem grave infelizmente eu terei de tomar providências um pouco mais sérias de agora em diante. Esses doutores estão precisando de um tratamento de choque para aprender um pouco de responsabilidade.

A missão que eu vou empreender é um pouco perigosa, e vai doer muito em mim também. Por isso, espere tudo. Amanhã eu mostro para vocês como foi a primeira ação de meu tratamento de choque. PAZ E LIBERDADE.

PS.: SÓ MAIS UMA COISA: VÁ PARÁ O BLOG DOIDO DOÍDO E VOCÊ VAI ENCONTRAR LÁ ALGO SOBRE REFORMA PSIQUIÁTRICA QUE OS POLÍTICOS DA SAÚDE DO BRASIL ESCONDEM.

4.6.08

DESORDEM NO CAPS RUBENS CORREA???

Olá. Eu estava procurando na Internet sobre um evento que acontecerá amanhã em Cascadura, falando sobre o CAPs Rubens Corrêa. É que o evento começou hoje, e os administradores do CAPs Rubens Corrêa literalmente abandonaram o CAPs para ir para o evento se promover. Isso é uma decepção.

Se não fosse por causa da importância de minha luta, eu desistiria. Pois enquanto eles estão fazendo promoção, o serviço está parado. Incrível!!! Eu não encontrei nada que falasse do evento!! Quando eu coloquei no buscador do Google CAPs RUBENS CORREA apareceu coisas de meus blogs (que falam do CAPs!)

Agora estou me preparando para protestar, exatamente contra a desordem e abandono que está rolando no CAPs Rubens Corrêa e nos serviços de saúde mental em geral. Imagine que pegaram um objeto numa sala do CAPs Rubens Corrêa e decidiram não fazer nada, por que o objeto é barato. Claro. É o contribuinte que paga.

E quando algo errado acontece no CAPs geralmente culpam os usuários, ou faxineiros, cozinheiros, sempre aqueles que não têm grande formação. Eu falo disso mais tarde. Por ora deixo o link do blog de um médico do Amazonas que apoia a luta antimanicomial. Interessante. http://rogeliocasado.blogspot.com/