31.5.09

Transtorno bipolar do humor - As alucinações

Em casos mais graves, o paciente pode apresentar delírios (de grandeza ou de poder, acompanhando a exaltação do humor, ou delírios de perseguição, entre outros) e também alucinações, embora mais raramente. Nesses casos, muitas vezes, o quadro clínico é confundido com a esquizofrenia.

Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia o que não significa uma mudança de diagnóstico, mas mostra um quadro mais grave quando isso acontece.

Bem convincentes as explicações dos sites PSICOSITE e o site da UNIFESP para as alucinações do transtorno bipolar.

Como eu já tinha dito na postagem Transtorno Bipolar - A fase maníaca, delírio de grandeza talvez eu sinta permanentemente, já que sinto que sou especial e tenho habilidades especiais. Porém quando seres invisíveis e visíveis começam a mexer comigo eu fico com medo e receio das pessoas. Talvez isso seja delírio de perseguição.

Das alucinações visíveis, algumas eram visões até inspiradoras, e aparentemente legais. No começo eu até gostava de ver. Mas depois eu ficava desconfiado. Será que essas visões são de seres bons? Porém outras eram absurdas. Daí eu olhava sem fazer caso. Aí parece que quando os seres dos outros mundos veem que eu estou querendo ignorar as visões eles apelam: daí eles começam a possuir as pessoas ao meu redor.

As pessoas parecem possessas. Seus olhos adquirem um brilho estranho. Como se seres de outros mundos tivessem possuído seus corpos. É assustador! Você se sente sozinho, sem ninguém a quem recorrer (já que qualquer pessoa poderia estar possessa pelos seres dos outros mundos). Entenda uma coisa: eu não fico cismado achando que os outros estão possuídos. Os outros realmente ficam possuídos nesses surtos. Pelo menos é assim que eu claramente vejo. Por exemplo, você não acharia estranho se uma criança de 5 anos de seu convívio de repente começasse a falar sobre você e seu passado como se fosse alguém bem mais velho?

Na verdade eu digo outros mundos, pois esses seres parecem ser variados, parecem vir de lugares diferentes. E são seres super-inteligentes. Falam coisas fantásticas. Eles têm uma percepção fantástica do universo e do mundo. E é sempre difícil saber o que eles querem.

A quantidade desses seres era enorme. Parecia que se eles tivessem forma sólida não caberiam na terra nem amontoados. A quantidade deles que eu sentia é difícil fazer que as pessoas imaginem. Mais eles não eram visíveis. Parecia estratégia deles. E eles tinham o poder de ser intangíveis, intocáveis. Mas eu podia senti-los como a gente sente o vento ou o frio. Aliás, a presença deles chegava a ser sufocante. Quando eles queriam se comunicar comigo eles possuiam alguém ou possuiam algum animal. Ou tomavam forma na televisão ou no rádio.

Em um momento, no meio do surto, eu tentava superar a loucura e levar a vida normal. Eu lia um livro de auto-ajuda que um familiar meu tinha pegado emprestado. O livro dava conselhos e falava de alimentação equilibrada, equilíbrio, etc. O livro parecia bom. Mas certa passagem do livro me surpreendeu. Falava que estudos já tinham comprovado que apesar do fumo em excesso fazer mal para a saúde, fumar com moderação traz benefícios fantásticos para a saúde. O livro aconselhava a fumar com moderação. Eu fiquei indignado, é claro, até pensei em destruir o livro. Mas depois do surto eu fiquei sabendo pelo familiar que o livro não falava sobre isso não.

Gostaria de deixar uma coisa clara. Enquanto que os meus sentimentos são iguais quando eu estou em surto e quando estou fora de surto, eu não tenho alucinações no meu dia-a-dia. Exceto em raros momentos.

O que me fazia ter certeza de que as pessoas ao meu redor já estavam fora do controle dos seres é que pessoas normais são menos inteligentes. E os seres de outros mundos tinham um ar de deboche permanente. Ou então as pessoas dominadas por tais seres se mostravam mais confusas que o normal. Aqueles seres buscavam atiçar minha vaidade. E logo eu pude perceber que vaidade era uma fraqueza humana que eles não tinham. Eram frios. Enquanto nós humanos nos preocupamos com o que os outros pensam, eles pareciam ser totalmente confiantes de si.

Depois dos surtos eu passei muito tempo tentando me convencer de que tais seres não existiam e que eram apenas minha imaginação. Fui cheio de confiança contar minha história aos psiquiatras, esperando que eles fossem me arrumar o melhor tratamento. Mas ao começar a contar minha história ficava feliz em constatar que os psiquiatras poderiam ser dominados pelos seres dos outros mundos, mas não tinham a astúcia nem a inteligência, nem a frieza que somente seres indiferentes e bem maus teriam. O nosso mundo não era tão mau assim.

Por outro lado eu lamentava por causa das fraquezas das pessoas normais de nosso mundo. Eu ia contar minha história, mas a vaidade dos psiquiatras e psicólogos nunca me deixava. Eles achavam que podiam adivinhar não me deixando contar minha história e partindo de um princípio que eles já sabem sem eu contar. Quanta vaidade!

Impressionante que para ser psiquiatra é necessário passar por provas dificílimas, fazer cálculos enormes... eu me sinto um nada perto desses psiquiatras. Como alguém que sabe tanto não sabe ouvir uma pessoa? Não sabe deixar uma pessoa à vontade para falar? Eu me pergunto: será que os seres dos outros mundos conseguiriam fazer os cálculos dificílimos que os psiquiatras fazem? Será que os seres dos outros mundos conseguiriam passar pelas dificuldades que os psicólogos passam para se formar?

No fundo eu sei o que acontece: os psiquiatras e psicólogos se formam mais por vaidade do que por vontade de ajudar e entender os pacientes psiquiátricos. A vaidade de ter um diploma, uma formação. Essa é a grande vantagem dos seres dos outros mundos. Eles controlam a vaidade. Eles são mais práticos. Não se deslumbram facilmente.

Não é preciso ser gênio para ver que se psiquiatras e psicólogos não tinham interesse de ouvir minha história eles não poderiam saber o que eu sofro. Aliás, se eles não leem o que pacientes psiquiátricos escrevem, como podem se considerar estudiosos das doenças dos pacientes psiquiátricos? Se essas doenças muitas vezes estão espelhadas nos textos dos pacientes? Eles são grandes mestres da indiferença, isso sim.

E se você é psiquiatra ou psicólogo e está lendo isso talvez você seja uma exceção à regra. Mas vamos ser realistas que a grande maioria é indiferente ao que o paciente escreve. Eu acompanho vários blogs de brasileiros, portugueses, britânicos e americanos pacientes psiquiátricos, e nunca vejo nenhum comentário de psiquiatra ou psicólogo. Salvo raras exceções, não vejo nem sinal desses indiferentes.

A questão é que a indiferença e vaidade desses psiquiatras e psicólogos acabam por prejudicar, E MUITO os pacientes psiquiátricos. Pois quando eles não admitem a escassez de recursos para tratar o paciente quem sai perdendo é o paciente. A vaidade deles leva a morte de pacientes psiquiátricos. Daí eu me pergunto: será que os seres dos outros mundos não estão se aproveitando da vaidade desses psiquiatras e psicólogos?

E se esses seres de outros mundos quiserem dominar a terra? Ou pior, se eles quiserem que a própria terra se destrua? E se eles estiverem fazendo com que profissionais se deslumbrem e se percam na vaidade (como psicólogos e psiquiatras) e com isso se preocupem menos com a morte de inocentes?

Eu passei anos tentando me convencer de que tais seres dos outros mundos não existem. Mas nesse mundo tão louco, em que eu cheguei a acreditar que os seres dos outros mundos eram reais e as pessoas desse mundo eram irreais, eu me faço perguntas. Será que eles não existem mesmo? E se eu for um desses seres dos outros mundos? E se essa for a explicação para eu poder senti-los? (Já que os psiquiatras não têm nenhuma explicação.) E se eu for tão mau quanto eles?

Meus leitores vão me desculpar por escrever tanto sobre surtos, mas eu estou com pressa em escrever isso pois temia não ter chance de escrever no futuro. No meio de meus surtos eu jurei aos seres dos outros mundos que eu ia escrever sobre eles, que eles não iam continuar secretos. Eu lhes disse que eles não iam continuar dominando e explorando humanos às escondidas.

E esses seres são maus, como já disse. Francamente, sei que parece loucura, mas eu acho que devo me proteger contra as represálias deles... prudência nunca é demais. (Apesar de ser imprudência escrever essas coisas, já que algum psiquiatra pode decidir me capturar para me "tratar". Mas eu tenho mais medo dos seres dos outros mundos que dos psiquiatras.) Mas é isso aí, seres dos outros mundos, eu escrevi minha história. Nossa história. Não importa o que vocês são.

28.5.09

Transtorno bipolar do humor - A fase maníaca

"O transtorno bipolar caracteriza-se pela ocorrrência de episódios de “mania” (caracterizados por exaltação do humor, euforia, hiperatividade, loquacidade exagerada, diminuição da necessidade de sono, exacerbação da sexualidade e comprometimento da crítica)

As fases maníacas caracterizam-se também pela aceleração do pensamento (sensação de que os pensamentos fluem mais rapidamente), distraibilidade e incapacidade em dirigir a atividade para metas definidas (embora haja aumento da atividade, a pessoa não consegue ordenar as ações para alcançar objetivos precisos). As fases maníacas, quando em seu quadro típico, prejudicam ou impedem o desempenho profissional e as atividades sociais, não raramente expondo os pacientes a situações embaraçosas e a riscos variados (dirigir sem cuidado, fazer gastos excessivos, indiscrições sexuais, entre outros riscos).
"

Agora os comentários de um bipolar sobre a forma que os psiquiatras veem o surto do bipolar. Devo começar avaliando a parte que diz "comprometimento da crítica". Devo dizer que é bem conveniente. Se eu, bipolar disser algo que não agrada um "normal" ele pode dizer que eu perdi o senso crítico. Sem comentários.

Quanto a parte da aceleração do pensamento, eu não sei como os psiquiatras descobriram isso! Como eles viram que o pensamento do bipolar fica acelerado? Em meus surtos eu, com certeza, não tive nenhuma sensação de que meus pensamentos fluem mais rapidamente. Sinto muito decepcioná-los.

Quanto a parte que diz "embora haja aumento da atividade, a pessoa não consegue ordenar as ações para alcançar objetivos precisos" eu sempre me sinto assim quando estou trabalhando demais. Acho que todo mundo deve se sentir assim quando trabalha demais.

Quanto a parte que diz que o bipolar em surto faz gastos excessivos, devo decepcioná-los mais uma vez. Eu não sou de fazer gastos excessivos. Em momento nenhum. Muito menos em surto, quando estou perturbado por alucinações e delírios. Quanto às "indiscrições sexuais", eu já expliquei porque elas acontecem na postagem Transtorno bipolar do humor - A sexualidade do paciente.

"Saber lidar com as situações extremas é quase decisivo e a maior dificuldade: o bipolar quase nunca percebe quando está hiperagitado. Quando percebe, recusa-se a aceitar o fato, e pior, tanto num caso quanto no outro, gosta de estar eufórico. Resiste firmemente a tomar medicamentos; abusa de drogas e álcool; gasta suas finanças (e, se possível, as alheias) de forma descontrolada; torna-se impulsivo, irascível, promíscuo e inconseqüente"

Dizer que o bipolar quase nunca percebe quando está hiperagitado é um julgamento tão injusto. Nos momentos que eu me senti hiperagitado eu percebi logo e fui falar com a psiquiatra. Realmente o psiquiatra que disse isso deveria falar mais com seus pacientes. Quanto ao papo de gostar de estar eufórico, pelo que eu sei todo mundo gosta. Senão as pessoas não usariam drogas e álcool para se embriagar e se alegrar.

Quanto ao bipolar resistir a tomar medicamento, eles estão certos. Eu realmente não gosto da idéia de tomar drogas. Mesmo sendo drogas psicotrópicas, que eles chamam de "remédio". Realmente esse perfil que eles fazem do bipolar é ofensivo. Eu nunca fui dado a bebidas álcoolicas, e nunca usei drogas. Nem me interessei. A acusação desses psiquiatras é séria. Na verdade eu passei a sentir um certo interesse por drogas apenas depois de provar a droga psicotrópica chamada lítio, que me deixou doidão.

"Sentimento de estar no topo do mundo com um alegria e bem estar inabaláveis, nem mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis diretamente ligados ao paciente podem abalar o estado de humor. Nessa fase o paciente literalmente ri da própria desgraça.
Sentimento de grandeza, o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder político. Inicialmente quando os sintomas ainda não se aprofundaram o paciente sente-se como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do quadro esta idéia torna-se uma convicção delirante.
Sente-se invencível, acham que nada poderá detê-las.
"

Realmente eu estranho os sintomas descritos pela psiquiatria! Em surto eu nunca me senti no topo do mundo, não senhor. Para que é que eu ia rir à toa tendo alucinações? Que imaginação forte a desses psiquiatras!

Quanto a parte do sentimento de grandeza, é mais difícil para mim explicar. Nos surtos eu realmente sentia que era um ser especial. Um escolhido. Eu gostaria de parar de escrever aqui, mas devo continuar, apesar da vergonha que sinto. Eu SEMPRE me senti especial. SEMPRE senti que tenho habilidades especiais. SEMPRE me senti um escolhido. E continuo me sentindo. Para mim é uma grande vergonha ter que admitir essa fraqueza minha. Pois sei que um ser que tem mania de grandeza permanente no fundo é um verme.

Eu sempre olhei para as pessoas e me vi como tendo acesso a um mundo especial que elas não têm acesso. Me envergonho de ter que admitir isso. Mas faço isso para deixar claro que em meus surtos eu não me senti mais especial do que sinto todos os dias. E acho que todo bipolar deve ser como eu. Eu só admito tudo isso porque quero que se acabe essa forma preconceituosa da psiquiatria de traçar nossos perfis.

Mas na parte do meu surto em que eu me sinto mais eufórico eu posso dizer que é mais ou menos assim:

Eu me isolo das pessoas para planejar e estudar coisas conectadas ao mundo especial que eu acredito existir. Por isso eu não poderia falar demais (loquacidade exagerada) como diz a psiquiatria.
Depois de estar muito cansado, começo a ter alucinações. Alucinações ofensivas, estressantes, perturbadoras. Enquanto eu esperava ver coisas boas, só me aparecem imagens horríveis, tenebrosas ou estranhas e sem sentido. Eu falo mais das alucinações numa outra postagem.



Parabéns àqueles que leram esta postagem até o final. E obrigado. Você perceberá que minha história é verdadeira. E que eu realmente estou certo quando digo que os psiquiatras deveriam ouvir mais os pacientes e deveriam estar mais preparados para deixar o paciente se sentir à vontade para falar. Pois enquanto não temos exames confiáveis na psiquiatria o paciente deve ser ouvido E MUITO para que o psiquiatra possa traçar seu perfil, que eles chamam de diagnóstico.

Claro. Isso é um processo.


RESPOSTAS AOS COMENTÁRIOS - ESCLARECIMENTO PARA QUEM NÃO ENTENDEU, ADICIONADO EM 03 DE FEVEREIRO DE 2013:
Esta publicação é antes de mais nada uma crônica ao péssimo atendimento da psiquiatria pública, na qual um psiquiatra me diagnosticou sem sequer falar comigo direito. Evidentemente eu NÃO SOU BIPOLAR, de acordo com os ótimos relatos deixados nos comentários. Poderia ser, talvez, PARANOICO. A psiquiatria pública que eu encontrei é extremamente violenta. Eu recuso tratamento antes de mais nada como protesto contra a violência psiquiátrica do setor público. Sim. Prefiro morrer, ou qualquer coisa a ter que me curvar diante da violência.

27.5.09

Transtorno bipolar do humor - A sexualidade do paciente

Abaixo eu deixo textos de psiquiatras que explicam o que é o transtorno bipolar, como se comporta o bipolar em crise. Eu fui rotulado pelos psiquiatras como bipolar, mas não acredito nesses diagnósticos. Para mim tanto faz ser bipolar ou esquizofrênico, ou psicopata. Na verdade eu preferia que ninguém me chamasse de nenhum desses nomes feios.

Os psiquiatras sequer fazem um exame laboratorial. Mal conversam com a gente. Mal sabem nos deixar a vontade para falar. Como os psiquiatras poderiam classificar a gente em bipolar, esquizofrênico e outros bichos? Baseado em quê?

"O transtorno bipolar caracteriza-se pela ocorrrência de episódios de “mania” (caracterizados por exaltação do humor, euforia, hiperatividade, loquacidade exagerada, diminuição da necessidade de sono, exacerbação da sexualidade e comprometimento da crítica)"

Vou dizer como era meu humor antes dos surtos. Como bipolar eu devo dizer que meu humor era, metade das vezes, exaltado. Eu estava sempre eufórico, exceto quando estava doente (resfriado, com dor de dente, ou quando meu time perdia...). Sempre falei demais. Realmente minha loquacidade sempre foi exagerada, apesar de tímido. Antes dos surtos eu sempre precisei de dormir muito bem. Nada de pouca necessidade de sono. E nos surtos eu também não tive nenhum desses sintomas, não.

Quanto a exacerbação da sexualidade, realmente minha sexualidade sempre foi exacerbada. Exarcebação no sentido de irritação. Infelizmente eu devo admitir desde criança, quando tive uma péssima experiência com sexo, eu tenho certas irritações sexuais. Isso durante toda a vida. Isso me parece mais uma irritação mental, me parece um trauma mental, pois não há excitação sexual. Mas de forma alguma houve um aumento dessa irritação nos surtos. Hoje eu lido melhor com isso.

Mas continuo não conseguindo evitar que sempre venham à minha cabeça as idéias mais estranhas sobre sexo. Essa irritação está na minha cabeça. Eu já tive os mais estranhos pesadelos. Como, por exemplo, fazendo sexo com minha própria mãe. É traumático. Infelizmente eu já me imaginei fazendo todas as aberrações sexuais imagináveis. Por isso aprendi a respeitar os desejos sexuais de cada um. Mas que fique claro uma coisa. Quando os psiquiatras dizem que há aumento do interesse e da atividade sexual nos surtos do bipolar, certamente não é meu caso. Eu nunca senti nenhum aumento de atividade sexual em meus surtos. E sempre tive grande interesse sexual, mesmo sob o efeito de antipsicóticos que prejudicam a ereção e tudo...

Mas quem viu minhas crises me perguntará: mas por que você fez aquelas coisas sexuais bizarras em seus surtos? Bem, eu estava sofrendo alucinações terríveis. Piores que me expor a um comportamento sexual ridículo em público. E meu comportamento seria sexual por causa das irritações sexuais também, que estão na minha cabeça me perturbando 24 horas por dia, sempre. Mas acredite. Diante das alucinações a irritação sexual perde a importância. E para me livrar das alucinações eu fazia aquelas coisas, como se fosse um ritual. Eu pensava, por exemplo, eles estão me perturbando mas vão me deixar em paz se eu fizer alguma coisa bizarra.

"O transtorno bipolar caracteriza-se pela ocorrrência de episódios de “mania” comumente alternados com períodos de depressão e de normalidade. Com certa freqüência, os episódios maníacos incluem também irritabilidade, agressividade e incapacidade de controlar adequadamente os impulsos.

Quanto à agressividade, é claro que qualquer pessoa pode ficar agressiva em desespero. O que não quer dizer que a pessoa vai bater em todo mundo ou ser violenta. Incapacidade de controlar adequadamente os impulsos? Eu nunca senti isso, não senhor. Sem dúvida os psiquiatras deveriam conversar mais com os pacientes antes de sair por aí fazendo o nosso perfil. Sem dúvida os psiquiatras deveriam ouvir mais os pacientes antes de sair por aí fazendo diagnósticos.

Os amantes da psicologia devem estar me perguntando porque eu não fui fazer terapia com psicólogo para aprender a lidar melhor com minhas irritações sexuais (ou mentais). Não obrigado. Eu posso me virar melhor sozinho. Infelizmente as consultas que já tive com psicólogos só me deixaram mais traumas ainda. Eu acho que vou precisar de fazer terapia para lidar com psicólogos. E é claro que essa terapia não seria com psicólogos...

Quanto aos meus traumas mentais, eles não podem aconselhar sobre temas que totalmente desconhecem. Eu tenho até medo de pensar que conselho eles me dariam!

Nas postagens seguintes continuarei falando do meu transtorno bipolar.

25.5.09

Rapaz quase tem overdose de drogas psicotrópicas

Gostaria de relatar o ocorrido no CAPS: um rapaz, companheiro paciente psiquiátrico veio assustado me dizer que ele tinha tomado 18 comprimidos do remédio de uma vez. Sem nenhuma indicação médica. Ele estava com medo de passar mal.

Eu perguntei a ele por que ele fez isso. Ele disse "Por nada". E se ele sofresse uma overdose por tomar medicação demais? Por isso eu acho que não dá para negar o perigo da medicação psiquiátrica. Por isso que eu acho que tais drogas só devem ser usadas em emergências, nos hospitais. Uma pessoa em tratamento ambulatorial pode ter uma crise (por mais leve que seja) e tomar medicação demais por vários motivos. Talvez por travessura de quem está em crise. Ou para se suicidar mesmo! E muitas das vezes a crise passa desapercebida.

Por isso eu defendo tratamento próximo. Com o máximo de acompanhamento e o mínimo de drogas. É claro que se a pessoa for acompanhada de perto ficará difícil de haver crise, mesmo sem psicotrópicos. Esses psicotrópicos não controlam ninguém. Se controlassem as pessoas não se matariam tomando medicação psiquiátrica. Não se matariam com overdose de medicação psiquiátrica.

Por isso agora eu estou mais do que empenhado na criação e manutenção de tratamentos com oficinas, atividades, exercícios para nós pacientes psiquiátricos. Tratamento com cursos de informática, como o curso onde sou educador. E já tomei uma decisão: se acabarem com o curso de informática no meu CAPS eu abandono o "tratamento". Vou procurar outras formas de me cuidar.

23.5.09

Pessoas se matam com psicotrópicos - até quando?

Essa é uma postagem dedicada àqueles que morreram por causa de psicotrópicos. Tenho vários amigos mortos por causa dessas drogas, mas gostaria de lembrar dos famosos:

HEATH LEDGER, ator que morreu depois de tomar um montão de drogas psicotrópicas. Há quem diga que não foi suicídio. Há quem diga que foi um acidente.

Vale lembrar mais uma vez de KURT COBAIN. Esse sim se matou. Outra tragédia por causa das drogas psicotrópicas. Antes ele tinha tentado se matar tomando um monte de psicotrópicos. Claro que vai ter gente que vai jurar que os psicotrópicos não tiveram nada a ver com isso.

Não dá mais para ter dúvidas. Drogas psicotrópicas são armas que podem matar. É impressionante como médicos passam para as pessoas drogas que podem matá-las. Ou o que é pior: drogas que podem ser usadas pelas próprias pessoas para cometer suicídio. É a mesma coisa que entregar armas para as pessoas.

Por esses motivos evidentes eu sou contra a prescrição de drogas psicotrópicas. Em sã consciência eu até poderia cometer suicídio, mas nunca com drogas psicotrópicas. Tenho nojo dessas porcarias. Mas fora de controle, o que me impediria de tomar uma overdose dessas drogas? Deveriam tratar tais drogas como produtos altamente periculosos. Apenas profissionais deveriam manipular tais drogas. E deveriam aplicá-las nas pessoas apenas em emergências.

Saúde mental precisa de mais que psicólogos e psiquiatras

Ontem, observando meu alto grau de estresse uma profissional do CAPS quis falar comigo para ajudar. Eu tentei explicar para ela que o CAPS não está estruturado para ajudar em crises como a minha. Você deve estar pensando: "ora, você é muito exigente." Você vai entender meus motivos: para começar, a moça era nutricionista. Por mais que ela tenha boa vontade, é claro que ela não estava preparada o suficiente para me ajudar.

O profissional de saúde mental pode ter muita boa vontade, mas infelizmente ele precisa de ajuda próxima de pessoas de outras áreas, que deveriam estar ajudando na área de saúde mental. Para começar, um clínico geral ajudaria e muito. E continuo dizendo que religiosos deveriam fazer oficinas nos serviços de saúde mental. Religiosos deveriam fazer consultas. Sempre religiosos de diferentes religiões, para atender diferentes públicos.

Algumas das complicações e dúvidas que eu estava tendo não poderiam ser auxiliadas por um psicólogo, nem por um psiquiatra, e muito menos por uma nutricionista! Várias vezes no passado tentei recorrer a psiquiatras e psicólogos para certas questões e só saí mais deprimido. Com todo respeito a esses profissionais. Precisariam da habilidade de um filósofo ou um líder religioso. Por mais que eu não seja seguidor de religiões, nem de filosofia, devo admitir que muitas vezes tais profissionais ajudaram onde psicólogos e psiquiatras falharam.

Poderiam dizer que eu poderia procurar tais profissionais e religiosos em outro lugar que não fosse uma instituição de saúde mental. Pense um pouco: e se eu fosse internado? Como é que eu ia ter opção de procurar por tais profissionais e religiosos? Por isso que eu digo: religiosos e profissionais com capacitações adicionais devem estar dentro do CAPS, dentro do hospital psiquiátrico, etc. Isso porque doença mental é coisa mais complicada do que se pensa. Profissionais de saúde mental não podem lidar com isso sozinhos. Ajuda é necessário.

22.5.09

Lítio - Lithium (Nirvana)



Preste bastante atenção nessa música do Nirvana, de autoria de Kurt Cobain. Ela descreve os efeitos do lítio. Os efeitos que usuários do lítio experimentam com frequência. Começa dizendo "Eu estou tão feliz... pois hoje encontrei meus amigos. Eles estão na minha cabeça. (Estão na cabeça pois são ilusões.) Toda a música é depressiva e cheia de dor.

A música descreve a sensação que as pessoas sentem, quando estão ao ponto de enlouquecer.

Kurt Cobain, vocalista do Nirvana era usuário de lítio. Como eu. E parece que ele não resistiu às sensações que sentiu e se matou.

Lítio, para quem não sabe, é a droga usada pela psiquiatria para "tratar" transtorno bipolar. Transtorno bipolar é a "doença" em que se diz que a pessoa fica, ora muito feliz, ora muito triste. em outras palavras, a pessoa fica deprimida ou eufórica.

O interessante é que antes de se matar ele já tinha feito uma tentativa. Tentou se matar tomando 50 comprimidos de um outro medicamento com champanha! É só para isso que esses psicotrópicos servem: para fazer as pessoas tentarem suicídio com o próprio "remédio"! Se esses psicotrópicos funcionassem mesmo ninguém tentaria se matar com eles!

Essa postagem é uma homenagem a Kurt Cobain, um companheiro de lítio. E servirá também para eu pedir que as pessoas parem de ver suicidas como covardes. O senhor Kurt Cobain foi super-corajoso no momento de sua morte. Além disso, os motivos que levam alguém a se suicidar são sérios. Ninguém se mata porque é fraco. Fraco é quem fala mal do suicida. E as pessoas não se matam só quando estão doentes. Existem motivos mais fortes que podem levar alguém ao suicídio. Só muita indiferença mesmo para fazer alguém acreditar que quem se mata está ruim da cabeça e pronto.

Descanse em paz, Kurt. Será uma grande honra para mim seguir seus passos.

Eu estou mal ultimamente. Quer dizer, estou meio pirado. Eu estou me readaptando a essa maldita droga chamada lítio. E o lítio deixa a gente doidão!!

Portanto se eu ficar muito tempo sem escrever aqui talvez eu tenha passado dos limites e sido internado. Talvez eu tenha tido uma overdose de drogas ilícitas. Tomando lítio a gente fica com vontade de experimentar outras drogas pesadas (como o Kurt Cobain fez). Ou então talvez eu tenha ido me encontrar com o Kurt Cobain.

MAIS SOBRE KURT COBAIN NA WIKIPÉDIA
VEJA MAIS SOBRE A MORTE DE KURT COBAIN NO SITE DA ABRIL

ATUALIZAÇÃO DE 27 DE OUTUBRO DE 2011:
HOJE EM DIA EM NÃO TOMO MAIS LÍTIO. NÃO TENHO MAIS O MENOR PENSAMENTO SUICIDA. NÃO TENHO MOTIVO PARA ISSO. PRETENDO PROCESSAR O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, POIS CONSIDERO QUE A PRESCRIÇÃO DO LÍTIO FOI UM ERRO MÉDICO.

19.5.09

Documentário mostra rotina no hospício

Publiquei este artigo primeiramente no dia 19 de maio de 2009, no mês de comemoração da Luta Antimanicomial. Estou atualizando no dia 07 de março de 2013.

Estou compartilhando um importante documentário que mostra pacientes psiquiátricos praticamente moradores na Colônia Juliano Moreira. A Colônia Juliano Moreira é um hospício onde vários abusos foram feitos contra as pessoas internadas, ou melhor, confinadas.

Todos os abusos são denunciados neste documentário. Colônia Juliano Moreira fica em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. A Colônia Juliano Moreira é chamada de "cidade dos rejeitados". Neste importante documentário, podemos ver imagens raras do Arthur Bispo do Rosário, doente mental que criou um grande acervo artístico. O documentário fala da falta de médicos e de outros terapeutas.

Importante notar que hoje continuam faltando médicos e profissionais em geral; criaram os Centros de Atenção Psicossocial, conhecidos como CAPS. Mas faltam médicos nestes Centros de Atenção Psicossocial. Infelizmente, os CAPS são apenas uma fachada para esconder a situação de abandono dos doentes mentais. Veja os vídeos.





17.5.09

Tratamento Humano X Psicotrópicos

O Orlando, também viciado em pico, destilava uma mistura de comprimidos que roubava na enfermaria de remédios. Colocava aquele preparado na seringa descartável que apanhava na lixeira da sala de enfermagem. E se aplicava, me oferecia...

O texto acima foi extraído do livro CANTO DOS MALDITOS de Austregésilo Carrano Bueno. Orlando e Carrano tinham sido internados por ser usuários de drogas. Mas na internação eles foram medicados com drogas psicotrópicas, drogas psiquiátricas. E fatalmente eles perceberam os efeitos narcóticos das drogas psiquiátricas. Como é mostrado no texto acima, eles usavam as próprias drogas psicotrópicas para ficar doidões... dentro do hospício!

Eu coloquei esse texto para alertar as pessoas sobre a LOUCURA que é usar drogas para tratar dependência de drogas. O impressionante é que cocaína e heroína já foram utilizadas no tratamento da dependência da morfina. Dá para acreditar? Se quiser conferir os fatos pesquise cocaína, heroína e morfina na Wikipédia.

Mas sobretudo eu quero que os psiquiatras reflitam sobre os perigos da prescrição de drogas psicotrópicas para tratar doenças mentais. Drogas que são usadas por quem quer ficar doidão não deveriam ser usadas para tratar doenças mentais. Eu até acho que quando a pessoa está em surto a droga psicotrópica ajuda bastante. Pois a droga certa pode sedar a pessoa que está muito agitada, fazendo-a relaxar. Isso é bom. Uma droga psicotrópica de emergência não pode ser condenada. Com tal uso emergencial até eu concordo.

Uso de drogas psicotrópicas para emergências, tudo bem. Mas não se trata doenças mentais com drogas psicotrópicas. Se trata com toque humano. Com paciência. Com um acompanhamento bem estruturado. Com profissinais preparados para lidar com o paciente psiquiátrico. Com terapias variadas. Com técnicas que incentivem o paciente psiquiátrico. A única coisa que se pode conseguir mantendo uma pessoa tomando uma droga psicotrópica por um longo período é viciá-la.

Me parece que usam drogas psicotrópicas para evitar o trabalho de acompanhar o paciente de perto. Tanto que alguns pacientes sequer vão ao psiquiatra para pegar medicação. Algum familiar pega para eles. Alguns pacientes sequer falam com seus psiquiatras. Os familiares falam por eles. Seria ótimo se quando um computador ficasse ruim a gente jogasse um comprimido em cima dele e ele ficasse bom. Mas infelizmente a gente tem que ligá-lo, abri-lo e mexer para consertar.

E para sensibilizá-los, vou contar minha experiência com as drogas psicotrópicas. Hoje em dia eu não deixo mais de tomar minha droga psicotrópica. Não é porque eu sou disciplinado. Não. Porque não consigo. Já estou viciado. Psiquiatras vão dizer que drogas psicotrópicas não viciam.

Como me tornei viciado

Mas minha experiência tomando tais drogas dizem o contrário. E pensemos um pouco no efeito de certas drogas psicotrópicas. Uma medicação para tratar depressão deixa a pessoa para cima, animada. Agora pense um pouco: você não acha que a pessoa vai se acostumar com a sensação de bem estar causada pela droga ao ponto de sentir falta se ficar sem a droga?

Foi o que aconteceu comigo. Antes de tomar lítio eu já estava bem por dois anos sem crises. Daí eu comecei a tomar lítio (droga psicotrópica) por um capricho do psiquiatra. O psiquiatra praticamente me obrigou a tomar lítio. Pelo jeito ele achava que eu estava deprimido. Logo comecei a tomar lítio. Uau! Que delícia! Que beleza! Eu me senti o máximo! Me senti cheio de coragem e ousadia para a vida! Minha capacidade sexual foi às alturas! Eu me sentia cheio de energia! Como nunca tinha me sentido antes! Até passei a sentir menos necessidade de sono. Mas aí eu comecei a perceber que as pessoas estavam estranhando meu comportamento. Me diziam que estava mais exaltado. Diziam que eu era calmo. Perguntavam o que tinha acontecido. Eu buscava não me importar.

Até que eu comecei a perceber o lado ruim da droga. Depois de me sentir muito eufórico eu sentia uma certa tristeza. Mas sempre passava. Comecei a tremer. Comecei a sentir a dificuldade para pensar. Comecei a sentir a dificuldade para falar. E comecei a perceber que dormir estava cada vez mais difícil para mim. Afinal, com tanta energia! Eu estava mais vigoroso do que quando tinha 17, 18 19, 20 anos... e quanto mais o tempo passava, mais vigoroso eu ficava! Com mais de 30 anos, eu estava mais vigoroso que nunca!

Eu já estava com medo do que poderia acontecer se eu continuasse tomando aquele lítio. Por outro lado eu já não confiava mais em psiquiatras, e tinha medo de me passarem outra droga com efeitos malucos. Depois de muita consideração, aceitei que uma psiquiatra substituisse o lítio pelo risperidona (que eu tomava antes). Porém, depois de um tempo percebi que eu não podia aguentar de saudades daqueles efeitos animadores do lítio. E implorei que a psiquiatra devolvesse meu lítio!

Mas agora, cada vez mais eu quero sentir coisas mais fortes. Tanto que agora eu já penso em experimentar alguma coisa que dê sensações mais intensas que as oferecidas pelo lítio... é... daí eu percebi que eu estou é viciado... por uma droga bem semelhante à cocaina.

15.5.09

Evento da Luta Antimanicomial - Maio 2009

Na sexta-feira, dia 15 de maio, tivemos uma solenidade para o Dia Nacional da Luta Antimanicomial na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia. O Dia Nacional da Luta Antimanicomial será dia 18 de maio. Houve uma mesa composta por uma familiar, uma psiquiatra e um usuário de saúde mental (além de um monte de políticos que nem vale mencionar). O evento ficou na medida certa. houve um momento em que os expectadores puderam falar e as nossas principais necessidades e dificuldades foram lembradas no debate. Só lamento o desânimo dos profissionais de saúde mental diante das dificuldades.

Depois da solenidade todos se reuniram na praça e começaram um evento ao ar livre.

Cinelândia, Rio de Janeiro



Abaixo, a apresentação do grupo Sistema Nervoso Alterado, do Espaço Aberto ao Tempo (EAT) do Instituto Nise da Silveira. Eles cantam e fazem um teatrinho muito doido.

Sistema Nervoso Alterado



Abaixo vemos Moisés, figura heróica que ficou internado cerca de 40 anos na Colônia Juliano Moreira. Saiu de lá e ainda conseguiu recuperar sua vida arrumando um emprego com o dinheiro de seu trabalho pagando sua morada.

Moisés, herói da luta antimanicomial

Abaixo um cartaz interessante, onde parece que a loucura é vendida a 5 Reais...

Loucura a 5 reais!

14.5.09

Informes: está chegando o Dia Nacional da Luta Antimanicomial

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial será no dia 18 de maio, segunda-feira. Mas amanhã, dia 15 de maio, está marcado um evento comemorativo. Esse evento comemorativo será na Câmara dos Vereadores do município do Rio de Janeiro, às 10hs da manhã. Se puder, compareça.

Blog do Bruno Gagliasso

Vale a pena falar um pouco do blog do Bruno Gagliasso. Como todos sabem o Bruno Gagliasso está fazendo o papel do esquizofrênico Tarso na novela Caminho das Índias da Globo. E o legal é que ele criou um blog onde ele coloca reportagens e coisas relacionadas a pacientes psiquiátricos. Enfim, Bruno Gagliasso fez um blog sobre saúde mental! E ficou excelente! Lá é um espaço super-legal onde as pessoas discutem sobre saúde mental. Veja o blog do Bruno Gagliasso.

13.5.09

Projeto hospital psiquiátrico

Somos a favor da Rede de Trabalhos Substitutivos, montada há mais de 14 anos e apoiada pela Organização Mundial da Saúde. As pessoas não seriam internadas, a não ser quando estivessem em crise ou surto. A internação seria em leitos de hospital geral, por no máximo sete dias. Somos a favor dos hospitais-dia, aonde as pessoas que precisam de tratamentos de saúde mental vão durante o dia e voltam para suas casas à noite. Defendemos ainda a criação e utilização dos Naps e Caps (Núcleos e Centros de Atenção Psicossocial), que não são hospitais psiquiátricos, são casas alugadas longe, fora do espaço físico dos hospitais psiquiátricos, nada que lembre um hospício.

Texto Acima Extraído da Entrevista de Austregésilo Carrano Bueno

Eu sou da opinião que todos os hospícios devem ser fechados. Todas as formas de asilamento devem acabar. Considero hospício todos os hospitais psiquiátricos antigos. Que as pessoas que têm surto possam ser atendidas nos hospitais gerais. No mesmo lugar em que se tratam pessoas com diferentes doenças, como o Carrano, representante de usuários, defendia. E essas internações não devem durar mais que 7 dias.

Com certeza muito trabalho deverá ser feito para organizar os hospitais gerais para receber pacientes psiquiátricos em surto. Há quem diga que certos pacientes psiquiátricos gritam muito, são escandalosos, e um hospital é lugar de silêncio. Daí que os pacientes psiquiátricos não poderiam ficar num hospital geral para não incomodar os outros pacientes que não são pacientes psiquiátricos.

Que comentário mais cheio de discriminação. Que me desculpe quem diz isso. E quando uma pessoa de uma doença qualquer começa a gemer de dor no hospital? Mandam a pessoa calar a boca porque hospital é lugar de silêncio? O que é preciso é um pouco de humanidade para aceitar as diferenças. Algumas pessoas vão gritar por causa de suas dores ou confusões. Ora, coloquem paredes a prova de som para proteger a tranquilidade dos outros pacientes.

Hospital psiquiátrico do futuro (O hospital psiquiátrico de meus sonhos!...)

Eu acho que devemos fechar todos esses hospícios que alguns chamam de hospitais psiquiátricos. Devemos fechar o Instituto Phillippe Pinel, o Instituto Nise da Silveira, etc. Isso porque essas instituições já estão marcadas por seu passado violento. O Instituto Nise da Silveira se chamava Pedro II. Mas não adianta mudar de nome. É necessário fechar essas instituições que já causaram tanta opressão, e transformá-las em simbolos da liberdade. Que tal transformar hospícios em residências terapêuticas e CAPS? Sem internação!

Há quem diga que "existe hospital cardíaco, hospital do cancer, por que não um hospital psiquiátrico"? Eu concordo. Muitas vezes quando me sentia muito mal eu senti a necessidade de ser internado. Eu poderia ir me internar voluntariamente. Mas não nesses hospícios de sempre! Que não sejam esses hospícios do passado que já estão manchados. Quando alguém é internado nesses hospícios, geralmente é à força. Ser internado à força só deixa o paciente psiquiátrico pior. E nessas internações a pessoa perde sua subjetividade. A pessoa não tem mais querer. Se for para ser internado eu quero continuar sendo respeitado e tratado com consideração.

E esse respeito que eu espero ver nos hospitais psiquiátricos do futuro! Que nesses hospitais psiquiátricos do futuro haja exames no paciente. Chega de olhar para o paciente e prescrever medicação sem exames. Isso por si só pode deixar o paciente desconfiado e, por conseguinte, pior. E que esses hospitais psiquiátricos do futuro fiquem num local de grande circulação. NADA DE LOCAIS ISOLADOS. E apesar dos pacientes estarem proibidos de sair, que o local seja aberto. coloquem um muro baixo, um local bem arejado. Bem à vista da comunidade geral. A regra número 1 é: a pessoa está em tratamento, não presa.

Terapia do hospital psiquiátrico do futuro

Dentre as terapias haverá a terapia religiosa. A religião não será mais discriminada por profissionais de saúde mental. MUITO PELO CONTRÁRIO. Religiosos serão convidados a fazer terapia. religiosos de diferentes religiões. Eles fariam terapias separados, claro. E participaria das terapias quem quisesse.

No hospital psiquiátrico do futuro haverá uma biblioteca, com certeza, não dá pra faltar. Uma biblioteca bem variada. E haverá terapeutas ocupacionais especializados em vários jogos e atividades físicas. Afinal, o paciente psiquiátrico precisa de atividade física. No hospital psiquiático do futuro atividade física fará parte do tratamento. Por que quem é obrigado a tomar drogas psiquiátricas pesadíssimas não é obrigado a fazer exercício? Aliás, esse seria outro ponto positivo do hospital psiquiátrico do futuro. Ninguém seria forçado a fazer tratamento. As pessoas devem ser conscientizadas da necessidade de tratamento.

No hospital psiquiátrico do futuro os pacientes psiquiátricos receberão tratamento para o vício do cigarro também. Quem não tem controle de seu vício e fica brigando por cigarro precisa de tratamento para se livrar do vício também. As pessoas não ficarão brigando por guimbas de cigarro, como acontece nos hospícios (e infelizmente isso acontece nos CAPS também).

Enfim, o hospital psiquiátrico do futuro contará com uma equipe muito mais bem treinada e completa. E nessa equipe haverá clínicos gerais, com certeza.

Eu sei que haverá quem vai dizer que seria muito difícil fazer tal hospital psiquiátrico. Mas não é tão díficil.

Seria muito difícil destruir uma cidade com uma bomba. (infelizmente já fizeram isso muito tempo atrás...)

Difícil seria fazer clonagem. (Já fizeram!)

Seria muito difícil controlar um computador à distância. (Há muito tempo isso é possível!)

Enfim, o que falta é mais humanidade.

9.5.09

O bom e o ruim do CAPS Rubens Corrêa

Mas uma vez, vou falar dos pontos positivos e negativos do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Rubens Corrêa, que é o primeiro CAPS do município do Rio de Janeiro. O lado positivo é aquele que eu tanto falo:

Os computadores e o curso de informática disponíveis para pacientes psiquiátricos. Os computadores são conectados com internet via satélite. Os cursos acontecem graças à parceria do CDI, Comitê para Democratização da Informática com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Veja o vídeo. E vamos lutar para que as coisas boas de alguns CAPS cheguem aos outros.

Agora vem as coisas ruins. Contra às quais temos que lutar com unhas e dentes.
Quando eu mostrei essa foto pela primeira vez parece que houve quem achasse que banheiros sem trincos era coisa normal para um local de tratamento psiquiátrico. O que as pessoas não sabem é que as pessoas ficam presas nos banheiros do CAPS. E não são só pacientes psiquiátricos que ficam presos, pelo fato das portas serem velhas e sem condições. Familiares dos pacientes também ficam presos no banheiro de vez em quando. Até os faxineiros já ficaram presos! O que as pessoas têm que perceber é o total desmazelo do banheiro. Não é só porque somos pacientes psiquiátricos que nosso banheiro tem que ficar com trinco quebrado, mofado e enferrujado. E as instalações chegam a oferecer perigo para os pacientes psiquiátricos. Veja abaixo, por exemplo:
Fios expostos e perigosos
Ao lado você vê a fiação do interruptor do CAPS, um local de tratamento psiquiátrico, em que os fios estão expostos, o que pode oferecer perigo para as pessoas. Eu não sei quem é o responsável por esse desmazelo. Não sei se é a prefeitura, ou a direção do CAPS. Só espero que tomem providências. Esse CAPS precisa de obras urgentes. Aliás, os CAPS, em geral, precisam melhorar muito.

6.5.09

Diagnósticos da psiquiatria

Esses psiquiatras são mágicos ou paranormais. Olham para o paciente... e já sabem os tipos de traumas, de lesões, de doenças, enfim, são mestres em diagnose a olho! Rabiscam dosagens de comprimidos sem ao menos esquentarem suas consciências, se é que têm alguma? Esses medicamentos têm efeitos a longo e curto prazo...

Extraído do livro CANTO DOS MALDITOS de Austregésilo Carrano Bueno


Essa é a visão de Carrano diante dos diagnósticos a olho da psiquiatria. O diagnóstico de Carrano foi feito há mais de trinta anos atrás, mas o meu foi feito há seis anos. Carrano, você não ia acreditar se eu te contasse que hoje, na era das grandes descobertas, eu tenho um diagnóstico que também foi feito a olho. Diagnose a olho! Daí que um entendido de psiquiatria deixou o seguinte relato abaixo:

Um bom diagnóstico em Psiquiatria baseia-se em dados provenientes não só do Exame do Estado Mental como resultados de exames de imagiologia e, claro, tendo em consideração os dados/sintomas de natureza somática - se os houver.

O único problema é que no meu diagnóstico o psiquiatra mal me ouviu e não fez nenhum exame de imagiologia. Isso quer dizer que meu diagnóstico foi feito de qualquer jeito, mas existem formas de se fazer um bom diagnóstico, com exames e tudo. Quantas coisas precisamos mudar na saúde pública...

Notícias interessantes sobre saúde mental

Últimas notícias que você pode ver no blog de notícias http://opacientepsiquiatrico.blogspot.com/.

A primeira notícia interessante indica que Problemas emocionais podem causar doenças em todos os órgãos e sistemas do organismo. É bem interessante dê uma olhada.


Se investe pouco em pesquisas para doenças mentais

A segunda notícia está mais direcionada a nós, pacientes psiquiátricos: Gene tem papel importante na esquizofrenia. É mais uma pesquisa que tenta ligar os chamados transtornos mentais à problemas genéticos.

O mais importante é a parte em que a organização não governamental Rethink, que trabalha com problemas mentais, disse que o estudo é um grande passo, e continuou dizendo "Com doenças mentais recebendo apenas 6,5% do investimento para pesquisas na Grã-Bretanha, deverá levar um longo tempo para que essas descobertas sejam transformadas em grandes avanços". Ele chamou a atenção para um problema sério: se investe pouquíssimo em pesquisas de saúde mental. É por isso que o campo de saúde mental está tão atrasado.

Microchip que avisa ao médico se você tomou sua medicação

Realmente essa é uma notícia que assusta. Um microchip para controlar se uma pessoa está tomando a medicação ou não... Com um recurso desses a gente estaria vigiado até a alma.

O problema é que não estão desenvolvendo tratamentos mais eficientes, mas estão desenvolvendo formas mais eficientes de controlar. Esse recurso está sendo desenvolvido em Londres e tomara que nunca chegue aqui. É bem invasivo. VEJA Microchip que avisa ao médico se você tomou sua medicação



Alimentos que podem afastar a depressão

Por outro lado, esse é um informativo reanimador. O Dr. Eduardo Gomes, especializado em terapia ortomolecular, fala de alimentos que podem afastar a depressão. VEJA Alimentos que podem afastar a depressão.

3.5.09

Pacientes Psiquiátricos mais graves estão esquecidos

"Os efeitos dos longos períodos de entupimento de medicamentos, dados em total desleixo, que os tiram dessa vida em poucos anos, matando-os... O que é isso?... Abandonar um grupo de pacientes nas mãos de irresponsáveis... O que é? E muitas outras perguntas temos o direito e o dever de cobrar. E exigir responsabilidades por tantas dores e sangue, dentro das nossas instituições psiquiátricas. Não me interessa se lá fora, em algum lugar, é assim, ou pior... Só sei que fui vítima. Exijo justiça...Exijo."

Extraído do livro CANTO DOS MALDITOS, de Austregésilo Carrano Bueno


Devo continuar falando sobre o preparo que os profissionais de saúde mental dos CAPS recebem: pode até ser suficiente para ajudar os pacientes psiquiátricos menos graves. Mas e aqueles pacientes que precisam de mais atenção? Os profissionais de saúde mental dos CAPS não estão preparados para lidar com aqueles pacientes psiquiátricos que demandam mais atenção.

Além dos pacientes psiquiátricos mencionados na postagem Pacientes Psiquiátricos graves há outros. Há, por exemplo, o paciente que mal consegue falar. Só fica sentado olhando para o tempo. Não participa de nenhuma atividade. E os profissionais do CAPS não sabem o que fazer com ele. Não sabem como estimulá-lo. Não foram preparados para isso. O CAPS não está estruturado para tratar esses pacientes psiquiátricos mais graves.

O CAPS está cheio de psiquiatras, psicólogos e enfermeiros. São 3 psiquiatras, mais de 3 psicólogos e nem sei quantos enfermeiros. Psiquiatras e psicólogos podem ser ótimos para pacientes já recuperados, pois esses só vão falar com psicólogos e ajustar medicação com psiquiatras. Enfermeiro serve para dar medicação. Mas os pacientes psiquiátricos mais graves, que perderam o contato com o mundo precisam de toque humano. Precisam de estímulos. Não adianta só entupí-los com medicação. Aliás, a medicação só vai encurtar a vida deles. Precisam de TERAPEUTAS OCUPACIONAIS, por exemplo. O CAPS Rubens Corrêa só tem uma terapeuta ocupacional, a Dayse Cristina Junqueira. Excelente profissional, diga-se de passagem.

O Paciente Psiquiátrico mais grave precisa de estímulos para voltar à realidade

A terapeuta ocupacional do CAPS é a profissional que mais faz bem para pacientes psiquiátricos mais graves do CAPS. Psiquiatras não sabem nem o que fazer quando se deparam com um paciente psiquiátrico mais grave. Não sabem como se comunicar. Quanto aos psicólogos, sem chance. Se um psicólogo começar a falar com um paciente psiquiátrico mais grave só vai conseguir fazê-lo dormir, ou irritá-lo. Pois não sabem como se aproximar. Não aprenderam.

Em resumo: está faltando terapeutas ocupacionais para atender os pacientes mais graves. Está faltando atividades que estimulem os pacientes psiquiátricos mais graves. Na verdade, seria legal se todos profissionais de um CAPS estivessem preparados para lidar com os pacientes psiquiátricos mais graves, que estão esquecidos.

Você está vendo o que está acontecendo?

Na verdade o ser humano está super avançado, mas não sabe se preocupar com seu próximo. O ser humano não é muito humano. Eu ainda sofro com discriminação da parte de muitos de meus próprios companheiros pacientes psiquiátricos. Muitos pacientes psiquiátricos consideram os "normais" mais capacitados, melhores, etc. A única forma de parar esses preconceitos bobos seria se todo mundo fosse paciente psiquiátrico... ou todo mundo fosse "normal".

Há discriminação contra portadores de HIV também. Muita gente tem uma discriminação velada, escondida. Muita gente que faz propaganda contra a AIDS, inclusive. Se todo mundo pegasse AIDS aí os cientistas iam achar uma cura rapidinho. Na verdade, quando a gente vê que outros têm o mal e a gente não, a gente fica despreocupado. "Para que lutar pelos outros?", a gente pensa. Se todos estivessem interessados no bem estar daqueles pacientes psiquiátricos gravíssimos a ciência avançadíssima já teria devolvido a "normalidade" para essas pessoas.

A diversidade do Paciente Psiquiátrico

Com a palavra, Carrano:

...Não fiquei muito entusiasmado. Mas quando me encontrava, ele cobrava. A novena é às quartas-feiras, em vários horários, faça Austry! Não tinha nada a perder. Por que não? Acompanhei sem fé tudo aquilo que ouvia na novena. Mas de alguma maneira, já na primeira vez saí mais calmo. Retornei na semana seguinte e, a cada novena, eu estava me acalmando. Todas as semanas, por um longo período eu estava lá, no Alto da Glória, bairro onde fica a igreja da Santa.

E aos entendidos em Psiquiatria, e aos psiquiatras, eu lhes afirmo que tudo começou a encaixar-se dentro da minha cabeça. Também dispenso suas explicações hipócritas do que aconteceu. Eles podem querer explicar da seguinte maneira: que eu sugestionava minha mente e meu subconsciente ao pedir à Santa minha melhora nas novenas e, assim, comecei a melhorar. Mas eu fico com a definição do prêmio Nobel de Física Niels Bohr: "...também devemos considerar leis de uma espécie totalmente diferente."

Se foi auto-sugestão, ou milagre, eu não sei. Só sei que a nuvem de dúvidas, o branco em minha mente se dissiparam, como se alguma mão invisível as tirasse de minha mente.

Extraído do livro CANTO DOS MALDITOS, de Austregésilo Carrano Bueno


Muito obrigado, Carrano, por sua contribuição na luta contra os preconceitos religiosos que muitos profissionais de saúde mental têm contra os pacientes psiquiátricos religiosos. Eles não sabem o bem que a religião faz para o paciente psiquiátrico religioso e parece que não buscam saber. O paciente psiquiátrico tem sua diversidade. Uns estarão ligados à religiões, e os profissionais de saúde deverão aprender a respeitar essa diversidade, assim como tentam respeitar a diversidade sexual.

Na novela Caminho das Índias, infelizmente, eu tenho visto uma certa intolerância religiosa. Espero que isso não continue. Não há dúvida de que quando um religioso diz que certo ritual ajudará na recuperação do paciente psiquiátrico os profissionais de saúde mental devem respeitar isso e até incentivar. Espero que os profissionais do futuro aprendam isso.

Carrano costumava chamar a psiquiatria de sacerdócio. E com razão. A psiquiatria adotou certos hábitos que parecem dogmas. Como, por exemplo, essa intolerância com a crença religiosa. Aliás, o livro de Carrano é uma escola de boas maneiras para profissionais de saúde mental. Sério mesmo. Se você é profissional de saúde mental, leia e releia o livro Canto dos Malditos. Você vai aprender muito.

2.5.09

Pacientes Psiquiátricos graves

Aquele canto era qualquer coisa diabólica. Como se o demônio tivesse o comando de suas mentes, nelas derramando sua ira e por divertimento os atormentasse, apenas para distração. Aquilo era satânico: pessoas urinadas, defecadas, revirando os olhos, cabeças, querendo entrar dentro do concreto. Todo aquele tormento só podia ser comparado ao inferno. Se ele realmente existe, sem dúvidas eu estava vendo um pedacinho dele, ali naquele canto__o canto dos malditos...

E a cada dia, mais e mais estava me fechando em mim. O ostracismo, suavemente, estava me dominando. Como uma chama forte e definitiva, esta é a única coisa que eu sentia, indiferença a tudo. Folha seca, não sentia nada de nada, é difícil até descrever. Sentia sim medo, mas mesmo a isso eu estava ficando indiferente. ficar apenas sentado em algum lugar olhando um ponto qualquer, isso era suficiente.

Extraído do livro CANTO DOS MALDITOS, de Austregésilo Carrano Bueno


Todo paciente psiquiátrico que foi diagnosticado com um transtorno mental depois de um surto fora de controle pode ser considerado grave. Podemos dividir os pacientes graves em dois grupos: pacientes graves controlados e pacientes graves descontrolados. Os descontrolados estão nos hospícios, pois a sociedade não os tolera (por considerá-los agressivos), os CAPS não têm recursos técnicos para acolhê-los e a ciência não se interessa neles. O controle é obtido com drogas psiquiátricas. As drogas psiquiátricas são realmente muito eficientes para controlar.

Pacientes Psiquiátricos graves controlados estabilizados e Pacientes Psiquiátricos graves controlados não estabilizados

podemos dividir o grupo dos pacientes graves controlados em mais dois grupos: pacientes graves controlados estabilizados e pacientes graves controlados não estabilizados. Aí começa o problema. As drogas psiquiátricas não conseguem estabilizar. O que eu chamo de estabilizar? Estabilizar é reinserir a pessoa no mundo. Colocar a pessoa capaz de interagir com os outros como fazia antes. Colocar a pessoa estável no nível emocional e social. E as drogas psiquiátricas não conseguem fazer isso, pois a doença mental é um problema social, o desequilíbrio mental é um problema social.

Os textos de Carrano acima mostram pacientes psiquiátricos controlados pela medicação, mas não estabilizados, incapazes de interagir. Todos estavam bem medicados, e não estavam agressivos. Mas como se obtem estabilidade no nível social? Com humanidade. Com compreensão e respeito, dando oportunidades para a pessoa. E com pessoas bem preparadas para ajudar a pessoa a se estabilizar no nível social.

Falta toque humano

Ou seja, para tratar o paciente psiquiátrico grave é necessário toque humano, é necessário se desenvolver melhores técnicas de como tratar o ser humano com amor e passá-las para os tratadores, profissionais de saúde mental. Mas infelizmente os profissionais de saúde mental só estão se preocupando em controlar a doença mental com drogas psiquiátricas avançadíssimas, e se esquecem de desenvolver um tratamento humano avançadíssimo. E o fracasso desse controle medicamentoso se vê no CAPS.

Enquanto alguns pacientes graves tiveram sorte de se recuperar e se estabilizar, outros continuam fora do mundo social e há anos repetindo cumprimentos como robôs autômatos. Foi assim que as drogas psiquiátricas os deixaram. Recuperação, eles não conseguiram, mas continuam engolindo pílulas pelo resto da vida. O motivo que faz que os profissionais de saúde mental continuem a dar uma medicação que não funciona é claro: eles querem garantir que "os pacientes não fiquem agressivos e machuquem a si mesmos e aos outros". Em resumo: eles não tratam os pacientes psiquiátricos como seres humanos, tratam como bichos que precisam ser controlados para não machucarem os outros.

Medicação psiquiátrica nos transforma em robôs autômatos

Como no meu CAPS. Um vive falando para todo mundo, o tempo todo, "tudo certo?" e só fala isso. A comunicação dele não sai dos cumprimentos. A comunicação de um outro também é resumida: "tem missa hoje?" Esse é um religioso que se tornou fanático ao longo do "tratamento" medicamentoso. Antes ele dizia "Eu vou para a missa e Jesus vai me curar e eu não vou precisar mais tomar remédio." Porém ele acabava sendo repreendido pelos profissionais de saúde mental que diziam que ele teria que tomar "remédio" pelo resto da vida e que religião não cura ninguém.

Daí que repreendido ele deixou de dizer que Jesus ia curá-lo, mas continuou dizendo "tem missa hoje". Mas passou a resumir seu mundo à frase "tem missa hoje". Não preciso dizer que essa repreensão é discriminação religiosa. O crente não é respeitado em sua crença, pois virou regra os profissionais considerarem que os "remédios" estão acima da crença religiosa do paciente psiquiátrico. Esses indivíduos só precisam de reinserção social. E os profissionais do CAPS não estão capacitados para fazer isso. Não são maus profissionais, mas não estão capacitados com o toque humano...

Depois continuarei falando da repreensão e discriminação religiosa que se encontra nos serviços de saúde mental, sobre falta de toque humano e sobre Carrano.