A forma que eu fui internado em outubro do ano 2015 deixou claro para mim que eu, enquanto paciente psiquiátrico, não sou gente, sou um cachorro. Quando os parentes decidiram me internar, trataram-me como cachorro, chamaram os bombeiros que também me trataram como um cachorro, e por fim, o psiquiatra também me tratou como cachorro. Até que fui um cachorro bem tratado pelos bombeiros, mas ainda assim fui tratado como cachorro, pois um ser humano tem direito a fala, mas eles estavam convencidos de que nada que eu falava valia. Então, aproveitando-se disso, meus parentes inventaram uma história para os bombeiros e os bombeiros acreditaram na história, afinal, quem ia acreditar no que um cachorro diz? A chegada do SAMU foi como a chegada da carrocinha.
Em toda essa experiência, eu baseei minhas estratégias futuras. Minha primeira conclusão é:
Não adianta falar com profissionais de saúde mental e parentes. É a mesma coisa de um cachorro tentar falar com uma pessoa. Dã! Cachorros não são entendidos por humanos. Falar para quê? Falar seria burrice, eu sou cachorro, não sou burro!
Cachorros podem fazer sinais não verbais para se comunicar. Pois bem. Eu até poderei me comunicar através da arte e de panfletos e cartazes. Por que não? Uma mensagem que eu passaria para bombeiros seria:
Não junte um grupo de seus homens para levar um paciente psiquiátrico para o manicômio, ops, hospital psiquiátrico. A função de vocês é salvar vidas, e não atender queixas de parentes de pacientes psiquiátricos. Se algum parente disser que tal paciente psiquiátrico quebrou alguma coisa, está violento, etc., esse deve ser um trabalho para a polícia; a polícia que deve atender queixas (e, lógico, esse paciente psiquiátrico deveria ter o direito de defesa, como qualquer cidadão, para que ele não se sinta como um cachorro).
Se eu estava passando necessidade, é lógico que eu ia acabar sendo internado! Lógico! Esse sistema é cruel. Estou falando do sistema psiquiátrico. A partir do momento que eu estava passando necessidade eu não fui internado porque não estava tomando medicação, fui internado por estar destituído. Ou melhor, me internaram por isso. OBSERVE que eu disse ME INTERNARAM POR ISSO. Ao me ver destituído, não ajudaram a arrumar a minha cama, não ajudaram a acabar com as goteiras que mal me deixavam dormir, ou algo assim, chamaram o SAMU e me internaram. Esse sistema prende o paciente, obriga-o a seguir o que eles ditam, e joga os parentes contra o paciente. Doravante serei mais prudente. Só me aposentando mesmo para não ficar mais destituído.
Mas eu estou indo para a luta. Se eu sou tratado como cachorro, talvez seja a hora de deixar de ser um cão que só ladra, e quando não apanha dos humanos, é ameaçado por eles. Talvez seja a hora de responder à agressividade dos humanos com uma mordida, mesmo se eles me chutarem.
DESABAFO
ResponderExcluir"Não consegui um trabalho mas os peritos do sus dizem que estou apta , porém continuo desempregada.MESMO quando digo que sou normal ou seja...quando digo a verdade sobre minha deficiência mental , não me empregam e quando minto também não...porque os peritos fizeram isso comigo? Preciso ter meu dinheiro...não consigo ser camelô nem todos tem esse dom."
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