31.3.08

SAUDE MENTAL EM CRISE

O constante vai-e-vem de psiquiatras desestabiliza o tratamento no serviço público de saúde mental. Um psiquiatra prescreve um remédio e pouco depois vai trabalhar em outro hospital para ganhar mais. Isso mostra a falta de compromisso do médico. Daí vem outro psiquiatra e simplesmente muda o remédio de novo. Um psiquiatra coloca um diagnóstico e logo chega outro psiquiatra e muda esse diagnóstico! Com a mudança nos diagnósticos vêm as mudanças no CID (Código Internacional de Doença) de cada paciente. Enfim, parece que não existe um padrão de tratamento na psiquiatria do serviço público. Falta ordem e organização. E isso tem irritado os impacientes pacientes.



Em uma época em que os psiquiatras colocam muita importância nos remédios, profissionais do serviço público de saúde mental acabam se esquecendo de que o acompanhamento próximo do paciente é o mais importante (do contrário o médico não seria necessário e poderíamos comprar remédios em máquinas nas ruas, como compramos refrigerantes.)



O acompanhamento que é o mais importante acaba sendo colocado em segundo plano. Me surpreende como algumas pessoas que tomam mais de 5 comprimidos por dia só recebem acompanhamento de 15 em 15 dias, ou apenas um acompanhamento mensal, quando deveriam ter acompanhamento, no mínimo 3 vezes por semana! Sem acompanhamento as pessoas entram em crise mesmo tomando remédio. E os profissionais tentam achar falha na forma em que a pessoa toma o remédio, tentando colocar uma aparência de infalível no remédio, como se a falta de remédio fosse a única justificativa para as crises.


Quando um paciente toma uma alta quantidade de remédios o acompanhamento deve ser maior, pois devido a alta quantidade de remédios o risco da pessoa tomar o remédio errado por acidente é muito grande, e uma ingestão errada de remédios é um grande risco para a saúde (isso explica o alto número de mortes por overdose!)



As pessoas deveriam procurar tratamento das doenças e transtornos mentais para levar uma vida melhor. Mas as pessoas não fazem isso, pois as pessoas têm vergonha de dizer que se tratam de doença mental, pois doença mental é vista como coisa feia e má, e isso graças aos preconceitos levantados pelos próprios psiquiatras. Os psiquiatras forenses, por exemplo, falam que os sociopatas e psicopatas são maus por natureza. E essa maldade do psicopata acaba sendo vista como uma maldade da doença mental em geral. (Pois por mais que os psiquiatras tentem separar os psicopatas e sociopatas dos outros doentes mentais, tudo isso é tratado por psiquiatras!) Por isso as pessoas têm vergonha de admitir a idéia de ter uma doença mental.


E o familiar também precisa de tratamento, e não deveria ter vergonha disso. De vez em quando um familiar fica emocionado ao descrever a crise de um paciente, às vezes, o familiar, ao falar do paciente, omite coisas ou até mente por vergonha, os profissionais de saúde deveriam explicar com clareza para esses familiares de que eles precisam de tratamento, e que se tratar não é vergonha. Pelo contrário: não se tratar quando precisa de tratamento é vergonha.
-
-

24.3.08

ODIO E DISCRIMINACAO

Eu digo o tempo todo "está faltando técnica na psiquiatria! Está faltando ciência! Os diagnósticos se baseiam mais em idéias pré-concebidas do que em técnica!"

Eu gostaria de deixar um exemplo de falta de técnica da parte de um psiquiatra forense do qual já falei aqui: o "doutor" guido Palomba. (clique no marcador psiquiatra_exibido e veja outra reportagem desse "doutor".) Ele faz seus comentários sobre o caso da torturadora Silvia Calabresi. Como sempre seus comentários são cheios de preconceito. Ele desmente a idéia de que Silvia se tornou torturadora por ter sido também torturada na infância e praticamente diz que ela estava predestinada a ser torturadora.

Doutor, onde você vê ciência nisso? Doutor, você fala como um fanático, e não como um homem de ciência. Eu observo que você chega a falar com um certo desprezo. Doutor, o senhor fala mais com ódio do que com ciência. Você não sabia, doutor, que achar que alguém está predestinado a ser mal parece mais fanatismo daqueles que queimavam bruxas no passado? Doutor, existe explicação científica para tudo. Ninguém é mal porque tem que ser mal. Com o tempo o senhor aprenderá, doutor.

Veja abaixo o vídeo com a história da torturadora e do doutor que gosta de falar na TV, mas que nunca vê solução para os "doentes". (Por que esse doutor não muda de profissão? Hum, deve ser muito bom fazer cara de inteligente e falar na TV...)



Esse problema seria resolvido se os doutores entrassem mais em contato direto com os pacientes e menos em contato e menos em contato com teorias. O problema se agrava com doutores que só fazem palestras e se exibem na TV. Não importa o quão bem intencionados eles estejam. Entrar em contato com os pacientes o máximo de tempo possível seria o melhor treinamento para que eles realmente pudessem entender alguma coisa sobre saúde mental.

No dia 26 de Março (quarta-feira) às 14:00 horas, novamente haverá uma palestra. Nessa palestra profissionais (políticos) da saúde falarão de como as propostas deles de levar informática para as instituições psiquiátricas beneficiaram os pacientes psiquiátricos (quando na verdade tudo deu certo na informática na saúde mental graças a profissionais da ONG CDI).

8.3.08

A FAVOR DO TRATAMENTO

Na história da Luta Antimanicomial existe um homem chamado Moisés. Esse homem é um herói da Luta Antimanicomial. Esse homem viveu mais de quarenta anos de sua vida internado e depois foi enfim libertado e chegou a receber alta dos medicamentos. E ele fala dessa alta com muito orgulho. Ele canta essa alta e agradeçe a Deus por isso. Diz que está curado em nome de Jesus. Ele diz que já está há mais de uma década sem tomar remédio, de alta. Agora imagine se acontecesse o seguinte com o Moisés: imagine se chegasse um "doutor" e falasse para ele "Hum... acho que você não está com o diagnóstico certo. Vou mudar seu remédio e seu diagnóstico!" Se aparecesse tal médico com certeza a história de Moisés seria diferente. Pense. Moisés está há décadas sem crises. Será que se ele estivesse tomando remédio ele estaria sem ter crises?

Essa é uma pergunta muito séria para fazer aos doutores. Os profissionais de saúde que vivem repetindo que as pessoas em tratamento psiquiátrico devem tomar remédio para sempre senão entram em crise. A pessoa entra em crise porque fica desesperada, pois o remédio causa os mais estranhos efeitos colaterais, e porque dizem para esse paciente que ele vai ter que tomar remédio pelo resto da vida, e que não tem saida. E a mesmo tempo ele não percebe nenhum efeito positivo por causa do remédio. Muito pelo contrário. A história de Moisés prova que NÃO É VERDADE QUE DOENTE MENTAL TEM QUE TOMAR REMÉDIO PELO RESTO DA VIDA. Eu diria que é o contrário. Sem dúvida Moisés não sofreu mais crises porque ele passou a participar da Luta Antimanicomial e isso serviu de terapia para ele, uma terapia bem melhor que tomar remédio pelo resto da vida.

Há diferentes casos que os doutores desconhecem(ou se conhecem tentam esconder). Existem pessoas que em suas vidas têm UMA CRISE ISOLADA. Começam a tomar remédio e depois param e NUNCA MAIS TEM CRISES. Isso, é claro, prova, MAIS UMA VEZ, que a teoria de que os doentes mentais devem tomar remédio pelo resto da vida é falsa.

É necessário, sim, que as pessoas tenham tratamento e acompanhamanto TODOS OS DIAS DE SUA VIDA. (Ou pelo menos quase todos os dias de sua vida.) Eu sou totalmente contra aquela coisa que os psiquiatras fazem. Eles dizem que o objetivo deles é ressocializar. Ou seja, manter as pessoas indo a serviços como o CAPS por um tempo, para manter a pessoa sob observação. Depois de um tempo eles dizem que a pessoa está ressocializada e diz que a pessoa não precisa mais vir ao CAPS. Eles dizem que a pessoa só precisa falar com o médico de três em três meses e... tomar remédio PELO RESTO DA VIDA. É claro que eu, como usuário de CAPS, vejo que isso NÃO DÁ CERTO. Sabe o que acontece? A pessoa afastada do CAPS entra em crise! E por outro lado aqueles que freqüentam o serviço com regularidade ficam sem ter as crises POR DÉCADAS.

Em resumo: Os políticos da saúde mental dizem que querem ressocializar as pessoas e depois diminuir o acompanhamento(considerado desnecessário após a ressocialização). O problema é que diminuir o acompanhamento resulta em crise. E como eu já mostrei, com acompanhamento, TIRAR O REMÉDIO COMPLETAMENTE NÃO PROVOCA REINCIDÊNCIA DAS CRISES. O problema é que oferecer acompanhamento para as pessoas parece não gerar muito dinheiro para os nossos políticos da saúde.

Vamos fazer um desafio: façam pesquisas sobre esse assunto. Políticos da saúde, retirem totalmente os remédios de todos pacientes que estão bem há mais de três meses sem crises graves, mantenham esses pacientes sob acompanhamento diário (ou quase diário) e COM CERTEZA, a maioria dessas pessoas não terão sequer pequenas crises, E COM CERTEZA TODAS ESSAS PESSOAS SE LIVRARÃO DAS CRISES GRAVES PARA SEMPRE. Isso surtirá mais efeito se os familiares desses pacientes também receberem acompanhamento e tratamento.

DOUTOR, TRATAMENTO É ISSO!!! TRATAMENTO É ACOMPANHAR!!! TRATAMENTO NÃO É DAR REMÉDIO PELO RESTO DA VIDA NÃO!!! EU SOU A FAVOR DO TRATAMENTO, MAIS SOU CONTRA O REMÉDIO PARA TODA VIDA.