25.1.09

PLACEBO

Quando eu tomava carbonato de lítio eu só conseguia dormir 2 horas por dia. Quando voltei a tomar risperidona, passei a dormir de 11 a 12 horas por dia. Quando falei sobre isso para a médica, ela disse:
__Ora, você já teve uma alteração na medicação. Agora você está tomando a dose mínima. (Eu tomo 1 comprimido de risperidona de 2mg. É realmente uma das menores doses.) Não pode é ficar sem medicação. __ Ela acrescentou. Mas tem certeza disso, doutora? Com certeza o carbonato de lítio me causava efeitos bem piores do que ficar sem medicação. Tanto que para dormir uma boa noite de sono e me recuperar eu tinha que interromper a terapia com carbonato de lítio. POIS O CARBONATO DE LÍTIO NÃO ME DEIXAVA DORMIR DIREITO.

__O carbonato de lítio não tem efeitos colaterais. Tomar carbonato de lítio é como beber água. __Disse, sorridente, o doutor que me prescreveu carbonato de lítio.
É doutor. É como beber água do mar morto. A água salgada do mar morto. Que desidrata a gente. E nos enche de doença. Mas era realmente como beber água, pois para mim, não servia para melhorar minha situação mental. Não tinha efeitos terapêuticos positivos. Só negativos. Com o carbonato de lítio, eu chegava a ter alucinações.

O carbonato de lítio era um placebo. Placebo é uma substância dada a um paciente no lugar da medicação, sem o paciente saber que não é real, para que o paciente fique melhor por achar que está tomando medicação. Pois bem. Só que em vez do carbonato de lítio ser placebo para mim, o paciente psiquiátrico, era placebo para os médicos e profissionais de saúde mental. Eu estava tomando uma medicação que não trazia nada positivo, e sabia disso. Mas parece que eles não sabiam, e achavam que o carbonato de lítio estava me “estabilizando”. E eu continuava tomando, como se fosse um ritual.

TERAPIA EFICIENTE DO CAPS

E os psiquiatras não sabiam como falar com o paciente psiquiátrico. Não sabiam como falar comigo. Uma psiquiatra dizia que os psicofármacos organizavam os pensamentos. Só se tivessem poderes mágicos. Os psiquiatras não sabiam dizer que os psicofármacos ajudam a dormir. E dormindo os pensamentos podem se organizar mais facilmente. Porém, eu observei em minhas últimas internações que quanto mais eu tomava um psicofármaco, menos efeito ele fazia. Parece que o organismo se acostumava. No início o psicofármaco, a medicação me acalmava. Mas logo as alucinações voltavam. Eu avisava aos familiares:
__Essa medicação não adianta nada.
E não adiantava mesmo. A medicação era um paliativo. E a longo prazo aquele paliativo não passava de placebo. E assim, mesmo tomando medicação, eu era internado várias vezes. Até que eu fui para o CAPs, Centro de Atenção Psicossocial. Daí eu pude comprovar que as terapias do CAPs eram mais eficientes que os psicofármacos. O CAPs funcionava bem para mim. Há quem prefira outros tratamentos.

Por isso eu acho bom defender tratamentos alternativos para o paciente. Há quem goste de tomar psicofármaco acima de tudo. Ora, deixem a pessoa tomar o psicofármaco. É uma opção dela. Porém, por outro lado, quem não gosta de psicofármaco não pode ser obrigado. E deve ter o direito de optar por outros tratamentos.

GREVE NELES

É chato perceber que, às vezes, profissionais de saúde mental não dão o valor merecido às atividades dos CAPs, e valorizam demais os psicofármacos. Sabendo que as atividades, com função terapêuticas, têm funções mais importantes que os psicofármacos, eu tomei uma decisão: vou protestar contra o cancelamento de serviços que fornecem atividades aos CAPs. Estão falando em cancelar, por exemplo, as escolas de informática dos serviços de saúde mental. Pois bem. Se isso acontecer eu faço greve. E greve daquilo que os profissionais de saúde mental julgam mais importante. Isso. Vou fazer greve de psicofármaco.

E não tem perigo. Eu consigo passar bem. Afinal, eu fiquei tomando aquele placebo, carbonato de lítio, por um tempo, e não me aconteceu nenhuma crise. E se houvesse perigo, valeria a pena.

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