31.10.09

A realidade do acompanhamento psiquiátrico

Como visto pelo PACIENTE PSIQUIÁTRICO.

Depois de passar meses nos hospitais psiquiátricos da vida, aqui no Rio, Brasil, pude ver a vergonha que ERA lá dentro. A última vez que estive internado foi em 2001. Lógico que vão dizer que agora está bem melhor do que em minha época. NÃO É VERDADE. Eu não estou internado, mas ainda entro em hospitais psiquiátricos. O que deveria melhorar mais pouco mudou, que é no tocante a humanidade.

O que eu quero dizer é que o mais importante não são recursos maravilhosos, piscinas, enfermeiras e estagiárias bonitas. (Apesar de isso tudo ser bacana.) Isso não adianta nada se continuam tratando as pessoas com estereótipos, estigmatizando. TRANSFORMANDO AS PESSOAS EM ESTIGMA.

Eu nem falo dos mau-tratos, pois não bater em alguém não é mérito, não é favor. Só porque ninguém está batendo nos pacientes psiquiátricos em certas instituições psiquiátricas não quer dizer que estão tratando bem.

Nos hospitais psiquiátricos pessoas ainda são amarradas, apanham, morrem, etc. Pouco mudou, apesar de toda a caricatura que os movimentos políticos de técnicos de saúde mental fizeram.

(Quando eu falo de movimento político de técnicos de saúde mental, estou falando do MNLA (Movimento Nacional da Luta Antimanicomial) e da RENILA (Rede Nacional de Internúcleos da Luta Antimanicomial).

Muito recurso, pouca técnica

Em matéria de recursos, realmente deveria haver mais CAPS, pois o certo seria investir mais em saúde mental, pois com o fechamento de muitos manicômios muito dinheiro foi economizado. Dinheiro que logicamente deveria ir para construção de CAPS e para O APRIMORAMENTO TÉCNICO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL.

Apesar dos ridículos protestos de Ferreira Gullar, não é verdade que seja difícil conseguir atendimento psiquiátrico no Sistema Único de Saúde. Na verdade é bem mais fácil que conseguir qualquer outro atendimento.

Os CAPS são os melhores lugares para tratamento, acompanhamento, pois os recursos materiais são vastos. Já imaginou se você fosse tirar sangue para diabetes e pudesse almoçar no posto, ou no hospital? Quem vai ao CAPS pode.

Os problemas dos atendimentos psiquiátricos não são materiais. São humanos. Materialmente os serviços públicos de saúde mental brasileiros estão bem melhores que qualquer outra especialização. O problema da saúde mental, infelizmente, é humano. É técnico.

No geral os profissionais de saúde mental ainda não estão preparados para lidar com o PACIENTE PSIQUIÁTRICO. Nem com o ex-paciente psiquiátrico, o cliente dos serviços de saúde mental, o usuário.

No entanto a partir do que já foi dito por usuários mais autônomos e politizados já há um bom material que poderia ajudar técnicos de saúde mental a tratar da melhor forma possível.

O problema é que a maioria dos profissionais que estão em CAPS, por exemplo, não estão nem aí para o que aqueles usuários mais autônomos dizem. Não estão nem aí para a história da Reforma, não conhecem nada dos movimentos políticos da Luta Antimanicomial, logo não podem falar sobre isso. Já que eles nem são politizados e são totalmente passivos.

Em vez disso, fazem a cabeça dos usuários de seus serviços... que eles estigmatizam chamando de pacientes. Alienam mais ainda as pessoas que deveriam ser ressocializadas. Claro que nos serviços de saúde mental sempre há alguns usuários mais politizados, que não engolem toda a alienação deles.

Por que chamar de paciente em um CAPS estigmatiza?

Eu recebi umas contestações atualmente de gente que chegou ao absurdo da ignorância de me chamar de preconceituoso por eu não gostar do abuso de técnicos em chamar usuários de Centros de Atenção Psicossocial de "pacientes".

Eu entendo essa pessoa, pois ela nunca foi internada, talvez. E talvez nem saiba o que quer dizer preconceito. (Já que chamar alguém que vive e TRABALHA no mundo da psiquiatria há anos de preconceituoso chega a ser ridículo.)

Quando a pessoa está internada a pessoa fica PRESA a desagradável idéia de ser paciente, e de um hospício, de uma casa de loucos. Para começar, não é um paciente comum. O hospício é, popularmente, uma CASA DE LOUCOS. Ser paciente de um hospício não é a mesma coisa que ser paciente em um hospital de câncer. Esse é o primeiro ponto. Daí que quando a pessoa sai do hospício, a melhor coisa a se fazer é desvinculá-la o máximo de termos que lembram exclusão e passividade, como o termo PACIENTE.

O segundo ponto é: GERALMENTE QUEM ESTÁ FAZENDO TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO TEM PROBLEMAS PSICOLÓGICOS, TRAUMAS, ETC. Como você quer levantar o moral de alguém se fica chamando-o de paciente o tempo todo?

Esses profissionais de saúde mental não sabem o mal que eles fazem quando usam, sem má intenção, termos estigmatizadores. Volta e meia eu encontro usuários que se aproximam de mim e dizem: "Eu não posso namorar porque eu sou doente." "Eu não posso trabalhar porque eu sou doente." "É porque eu tenho a mente doente, não penso direito." "Pode ser que eu bata nos outros, porque sou doente mental."

Como é esse estigma no CAPS Rubens Corrêa - Irajá

No meu CAPS, eu falei COM OS TÉCNICOS sobre a necessidade de parar com essa estigmatização. Falei que não é apropriado chamar as pessoas de pacientes lá, pois paciente é quem está internado.

Logicamente fui rebatido. Depois de distorcerem a coisa por um tempo, perguntaram aos usuários que lá estavam: "Vocês se incomodam se nós chamamos vocês de pacientes?" Algumas pessoas disseram que não e a maioria ficou calada.

Dentre as pessoas que ficaram caladas estava uma pessoa mais consciente, que é contra essa forma de chamar as pessoas. Ela me disse que prefere não falar nada, pois prefere não se meter com "essa gente".

Nesse caso, o melhor procedimento seria conversar com os usuários, falar sobre termos como "usuário", "cliente", "frequentador" e "consumidor". Esses técnicos deveriam conhecer a trajetória política da luta dos usuários, conhecer a história da Reforma. Depois de explicar para os usuários sobre a idéia de que o termo paciente carrega a idéia de passividade, aí sim, os próprios usuários poderiam sentar e escolher a melhor forma que gostariam de ser chamados.

Que poderia ser "usuário", "cliente", "frequentador", "consumidor", ou talvez até houvesse quem gostasse do termo "paciente". (O que eu duvido muito! Talvez alguém com condições que teve atendimento privado goste de ser chamado de paciente, ou ache que é "consciência", mas duvido que alguém que foi amarrado goste.)

Melhor seria buscar informar as pessoas para que possam tomar decisões. Quem toma decisões alienado é apenas manipulado.

A falta de recursos técnicos no acompanhamento psiquiátrico atual

Nem é preciso falar muito. Enquanto você se submete a exames com dentista, faz um exame para verificar se tem diabetes ou não, a psiquiatria do SUS (Sistema Único de Saúde) não conta com nenhuma dessas modernidades. Apesar do serviço privado já contar com algumas modernidades. O máximo que tem lá é o exame litemia, que você passa a fazer depois de passar por uma diagnose a olho e ser rotulado de bipolar.

Mas o que mais me decepciona é que eles não desenvolvem formas de lidar com os pacientes psiquiátricos. Geralmente não sabem como motivar alguém que não está se encaixando no mundo, por exemplo.

Falo daquelas pessoas que vivem repetindo o que diz, enfim, apesar de não estar nem delirando, nem agressiva, ela está fora de qualquer nível social. Quem é chamado de paciente o tempo todo realmente corre o grande risco de ficar assim.

Por que usuários quebram coisas no CAPS?

Outro dia a diretora do CAPS veio me mostrar o banheiro quebrado do CAPS, pouco depois da reforma? Os usuários tinham quebrado! O que eu tento explicar para os técnicos do serviço é que as pessoas precisam ser reeducadas, ressocializadas.

E é claro que faz parte dessa ressocialização chamar essas pessoas com os termos que vão valorizá-las, dar importância. Aí é claro não vai dar para ficar chamando as pessoas dentro do CAPS de paciente.

Paciente está doente, pô, o cara vai agir como? O cara vai agir como quando ele é doente mental? E não venha com esse papo "A pessoa é doente mesmo, tem que assumir." A pessoa merece o direito de viver e esquecer da doença por alguns momentos, pelo menos. Não é bonito sair por aí passando a idéia de que a pessoa é doente e tem que estar consciente disso. O termo doente se refere a dor, ou você não sabia disso? Pode ter certeza que ex-pacientes psiquiátricos que estão nos CAPS como usuários não sentem dor o tempo todo. Em resumo, não venha dizer que a pessoa é doente mesmo e acabou. Desculpe, mas você é que é ignorante com esse papo de doença.

Esses técnicos de saúde mental precisam aprender muito sobre o trato humano ainda. Infelizmente as drogas psicotrópicas não ressocializam ninguém. E se eles não colaborarem vai ficar difícil.

Técnicos do CAPS Rubens Corrêa reclamaram que eu não falo bem das obras que estão ocorrendo no CAPS. É porque eu não acho isso muito importante. Observe que eu falei neste blog sobre a melhoria no tratamento humano no CAPS de Irajá, falei que os seguranças estão mais gentis, etc. É que eu considero o toque humano uma prioridade.

Vou ficar por aqui.

PAZ E LIBERDADE.

Um comentário:

  1. Anônimo3:10 PM

    Parabéns pelo blog, você escreve muito bem, é sensato no que diz!!!
    Abraços

    ResponderExcluir

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Portanto, se houver algo a ser corrigido aqui, publique nos comentários, mas COM PROVAS, como eu faço.

Algumas pessoas, ao tomar medicações psiquiátricas ou drogas ilícitas, não sofrem efeitos adversos significativos (como vemos algumas pessoas que fumam a vida toda e morrem de velhice.) Portanto verei como normal algumas pessoas dizerem que nunca sentiram nenhum efeito colateral ao tomar determinado psicotrópico.

Mas qualquer indivíduo que escrever algo contra as informações técnicas mostradas aqui deve PROVAR IMEDIATAMENTE na mesma mensagem, do contrário terei que deletar.

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