São em lugares insanos - A experiência de Rosenhan
Se sanidade e insanidade existem, como podemos saber?
A questão não é caprichosa nem insana em si. Não importa o quanto estejamos convencidos de que podemos diferenciar o normal do anormal, a evidência deixa dúvidas. É bem comum, por exemplo, lermos sobre processos criminais em que grandes psiquiatras da defesa são confrontados por grandes psiquiatras da promotoria no processo sobre a sanidade do acusado.
Acima você vê o início do artigo do psicólogo David L. Rosenhan,
On Being Sane In Insane Places.
A experiência de Rosenhan foi a seguinte: ele arrumou alguns voluntários para ir a um hospital psiquiátrico e dizer que ouvem vozes.
Detalhe 1: para o teste os voluntários estavam em perfeita saúde física e mental, é claro. Detalhe 2: os voluntários não eram atores, não senhor! Porém ao dizer que ouvem vozes, foram todos internados! Enquanto que os pacientes do hospital logo descobriram que os voluntários da pesquisa não tinham nenhuma doença mental, os profissionais do hospital os mantiveram internados por até 52 dias! Detalhe 3: uma vez internados, os voluntários disseram aos profissionais do hospital que não ouviam mais vozes e buscaram manter um comportamento NORMAL - apesar da tensão de ver pessoas sendo torturadas dia após dia.
Rosenhan fez uma pesquisa que simplesmente revelou aquilo que todos nós estamos cansados de saber, mas não queremos admitir. Apesar de sua ótima formação acadêmica, psiquiatras e psicólogos não estão preparados para determinar quem é doente mental ou não. Muito menos estão qualificados para dizer se uma doença mental é crônica ou não, já que sequer podem dizer, com certeza, se há uma doença mental.
O que não quer dizer que tais profissões devam ser invalidadas. Tais profissões podem servir para ajudar as pessoas a se sentir melhor com suas terapias, é claro, desde seja por vontade própria da pessoa, nunca a força, nem por coerção, nem ameaças do tipo "se você não tomar esse remedinho você pode ter uma crise gravíssima". É muito feio fazer ameaças!
Agradeço ao excelente blog do
Rodolfo Araújo, que me indicou essa pesquisa através da postagem
Experimentos em Psicologia - Rosenhan e o lado de fora do hospício.
Surgiu a Internet, o celular com câmera e GPS, o MP3, o MP4, MP5 etc, a clonagem, as pesquisas com células-tronco e a psiquiatria continua a mesma...
Quero chamar atenção para o fato que a pesquisa de Rosenhan foi feita em 1972. Antes que apareça alguém dizendo que a pesquisa é muito antiga e ultrapassada, blablabla, lembre-se que a psiquiatria é que é muito antiga e ultrapassada, já que não mudou nada desde essa pesquisa.
Aliás, mudou sim. Na década de 70 as pessoas conseguiam esconder medicação debaixo da língua (como podemos ver no livro do paciente psiquiátrico Carrano e nessa pesquisa) e cuspir depois. Na época em que eu fui internado (1999-2001) me mandavam levantar a língua, colocavam a medicação e se certificavam que eu realmente tinha engolido olhando bem na minha boca de uma maneira bem constrangedora. É... isso pode ser considerado um progresso.
Paciente psiquiátrico: é preciso primeiro ter orgulho próprio para depois ter orgulho louco
Quanto a luta dos usuários de saúde mental do Brasil, repito que toma um rumo bem estranho, e sempre manipulado. É aquele usuário que já não pensa por si, e repete máximas de psiquiatras e psicólogos como um papagaio. Eu tenho que aguentar esses usuários manipulados reivindicando "precisamos de psicotrópicos de última geração, seu vereador, precisamos de psicotrópicos modernos." Como é que vamos tomar psicotrópicos de última geração se sequer temos diagnósticos de última geração, sequer temos exames de última geração?
Esses usuários são meus amigos, mas, poxa, que são manipulados são. São levados no bico. Como poderia haver um "orgulho louco" no Brasil se os usuários dos serviços de saúde mental parece que nem tem orgulho próprio?
Parece que todos acreditam que é a medicação psicotrópica que os faz pensar, e sem tal medicação não são nada. Quem acha que só pensa RACIONALMENTE tomando drogas (medicação) realmente não tem orgulho próprio (já que seus pensamentos são movidos pela droga, acreditam que a droga é necessária para pensar direito). Veja bem: na doença mental a pessoa chega ao EXTREMO de pensar que se torna perigoso se não tomar a droga psicotrópica!!!
Se você não pensa, mas a droga pensa por você, me desculpe mas você não é nada, é menos que nada. Desculpe a franqueza. É triste ter que colocar isso. Viraram fantoches, zumbis. E aqueles que pensam que não precisam das drogas para viver têm medo de se manifestar.
Vão tentar comparar a doença mental às doenças crônicas. CUIDADO com essa comparação. As doenças crônicas foram diagnosticadas com exames laboratoriais objetivos, concretos, e não apenas por observação SUPERFICIAL. O médico não diz que você tem HIV só de olhar para você e fazer umas perguntas para seus familiares. Aliás, cuidado com isso.
Imagine se um médico olhasse para o paciente, fizesse algumas perguntas e já saísse dizendo "você tem diabetes. Tem uma doença crônica." É necessário exames LABORATORIAIS para diagnosticar.
A sua doença mental nem foi diagnosticada com clareza e já dizem que é uma doença crônica? Cuidado. Sua saúde mental é coisa séria. Não deixe que a manipulem assim.
Queremos continuar sendo diagnosticados a olho? Precisamos SIM é de EXAMES OBJETIVOS PARA DIAGNOSE DE DOENÇA MENTAL. Não adianta tomar psicotrópico de última geração sem sequer ter certeza da existência da doença mental (ou transtorno mental, ou sofrimento psíquico, sei lá, um dia a gente descobre o que é.)
Claro que falam de experimentos para descobrir os genes da esquizofrenia e de outros transtornos mentais. Se você parar para pensar um pouco verá como tal experimento nem é possível de ser feito. Por quê? Óbvio.
Você, paciente psiquiátrico, já deve ter tido seu diagnóstico mudado, não é verdade? O meu já foi. Eu conheço pessoas que já mudaram de diagnóstico 3 vezes!!! Se você for esperto já deve ter percebido o que quero dizer.
Ou você não pensou na possibilidade dos esforçados cientistas pegarem um paciente esquizofrênico para fazer pesquisa, chegar a conclusões fantásticas, apenas para mais tarde o paciente esquizofrênico ser promovido a portador do transtorno bipolar ou do transtorno obsessivo compulsivo? Ou melhor apenas para mais tarde descobrirem que o paciente estava com o diagnóstico errado, o que invalida a esforçada pesquisa. (Que era direcionado a um transtorno, que na verdade era outro! Que confusão!!!)
Em resumo: para se pesquisar genes de esquizofrenia e de outros dos chamados transtornos mentais primeiro precisam criar um exame de LABORATÓRIO para ver com objetividade o diagnóstico de alguém.
Digamos que você que teve uma crise diga "surtei mesmo, eu senti isso! Tenho certeza de minha doença mental!" Mas digamos que você é um daqueles que ficam anos sem surtos. Quem garante que você ainda tem a doença mental? Quem garante que você ainda é esquizofrênico, bipolar, ou sei lá? Ou você acha que o diagnóstico é um signo? Seria necessário um exame OBJETIVO para ver isso, não acha? A propósito, o diagnóstico não é um signo, é um ESTIGMA.
O diagnóstico deixa marcas para vida toda. Qualquer coisa que você faz ou diz depois do primeiro surto pode ser considerado sintoma da doença mental. Se você fica um pouco mais irritado: está em crise. Se você fica triste: está em crise. Enfim, depois do diagnóstico de psiquiatria sua vida VIRA UMA CRISE.
Vou ser curto e grosso: precisamos reivindicar EXAMES OBJETIVOS na psiquiatria. ISSO É O MAIS IMPORTANTE. E espero que os psiquiatras se conscientizem que devem reivindicar isso também. vamos trabalhar de maneira séria, né gente?
Dom Quixote da Luta Antimanicomial
Com base em tudo isso que eu tenho observado em termos de "Luta Antimanicomial" no Brasil, eu chego a conclusão que essa luta não chega a nenhum lugar. Quer dizer, podem conseguir coisas maravilhosas, como psicotrópicos de última geração ou passe livre de avião, mas coisa objetiva PARA A SAÚDE MENTAL dificilmente será conseguida.
Daí eu naturalmente não posso levar tal luta muito a sério. E sou obrigado a seguir meu caminho. Mas antes devo advertir usuários do que está acontecendo, perguntando por quanto tempo pretendemos seguir recebendo diagnoses a olho (como dizia Austregésilo Carrano), por quanto tempo vamos fechar os olhos para as peripécias das indústrias farmacêuticas?
Sou obrigado a largar o "tratamento", sob a justificativa de que não fui submetido a nenhum exame OBJETIVO, e parece ser meu direito fazer exames antes de seguir tratamentos. Claro que outros motivos me levam a essa decisão. Como a constatação de que esses psicotrópicos não tem efeito a longo prazo, enfim, não funcionam para nada depois de um tempo, e é claro, podem causar sérios danos a saúde. O único motivo que me manteve fazendo esse estranho tratamento foi minha luta política. Mas uma vez observando que a luta política é inútil, para que continuar?
Naturalmente minha luta política está no fim, mas não acabou ainda. Mas tem prazo para acabar. Acredito que no mais tardar em 2013 minha luta política estará finalizada. Neste ano, obviamente, eu vou parar de engolir comprimidos. Naturalmente 2013 é o último prazo. Eu pretendo finalizar minha MISSÃO (missão, uau, que poético) antes. A idéia é acabar em 2012.
O que seria essa luta política? Simplesmente uma luta pela inserção de novas formas de inclusão social dentro dos CAPS e instituições psiquiátricas em geral, ou seja, a implantação de cursos dentro dessas instituições para acabar com o tédio e gerar renda, lazer e interação.
Naturalmente publicarei online quando eu parar o "tratamento". Por que estou deixando isso aqui, antes? Simplesmente para evitar que quando, no futuro, eu disser que estou largando o "tratamento" algum psiquiatra venha dizer que estou em crise, como eles sempre fazem. Como estou divulgando por antecipação algo que farei no futuro eles não poderão se apoiar nisso. Enfim, isso é uma estratégia. Quando no futuro disserem que estou pensando em parar por não estar bem mostrarei o que escrevi anos antes. Bem, poderiam dizer que estou em crise agora, hehehe!
Observe que não aconselho ninguém a parar de tomar medicação do nada. Mas se você está há anos sem crises, considere essa possibilidade. Ou ao menos exija um EXAME OBJETIVO (de laboratório, por exemplo) que prove que você deve continuar tomando psicotrópicos para se garantir.
Claro que qualquer um que decide parar de tomar medicação tem que enfrentar uma guerra psicológica, uma guerra de nervos. Não é fácil. PORTANTO, CUIDADO.
Philip Dawdy, o americano que parou de tomar medicação publicamente sofreu toda forma de pressão e PRECONCEITO. Diziam coisas do tipo "você vai surtar", etc. As pessoas não dão apoio. Impressionante.
Philip Dawdy é jornalista, e realmente é um exemplo para mim. E para todos nós brasileiros que estamos acovardados dizendo que parar de tomar medicação é muito perigoso.
O que é perigoso é receber diagnóstico sem exames objetivos. Perigoso é tomar medicação sem fazer nenhum exame laboratorial antes. (Você já deve estar cansado de tanto eu escrever isso!)
Há uma legião de americanos que pararam de tomar as "indispensáveis" medicações, e estão bem melhores. Veja os links dos blogs estrangeiros que eu coloco nesse blog, no fim da página. ABRA OS OLHOS, PELO AMOR DE DEUS!!!!
PAZ, e FÉ.