17.1.10

OS CASARÕES - Capítulo 4 (Relato: um hospício, uma fábrica de ilusões)

OS CASARÕES



EMERGÊNCIA! - CAPÍTULO 4


Centro Psiquiátrico D. Pedro II. Um manicômio localizado numa tranqüila vizinhança chamada Engenho de Dentro. Ninguém tinha informado Estêvão dessas coisas. Ele leu nos cobertores. (E ele não estava delirando quando leu nos cobertores. Mandaram escrever tais dados nos cobertores, talvez como uma propaganda do manicômio!) Agora sua mente ia para algumas mesinhas, de manhãzinha. Ele mal podia ver as coisas ao seu redor. Ele via tudo num pálido bem forte. Ele não podia distinguir, definir nada. Daquele momento em diante ele não podia se lembrar de nenhum rosto, pois todas as imagens eram embaralhadas. Ele só podia se lembrar de vozes. Vozes violentas e agressivas. Gritando o tempo todo. Mas a gritaria vinha principalmente do pessoal que trabalhava lá.

Aquele era o começo da confusão. Ele não podia ver direito e além disso os funcionários de lá (enfermeiros, certamente) gritavam com os clientes o tempo todo. Eles gritavam “sente aqui, porra!” “Não pegue isso!” No momento em questão ele e seus companheiros eram levados para tomar café da manhã. Ele mal podia ver. Mal se aguentava de pé. Ele se sentia como se sua mente quisesse abandonar o corpo.

As vozes zuniam. Naquele momento ele ainda tinha consciência das coisas, ele ainda podia falar. Mas a equipe do manicômio não queria acreditar nisso. Tratavam Estêvão como se ele fosse irracional, inferior. Ele e seus companheiros não passavam de criaturas irracionais naquele lugar.

Se ele fosse para um lado eles gritavam “pare! Você não pode ir aí!” Ele não sabia onde estava e era enxotado o tempo todo. Já estava difícil para ele ver as coisas, não lhe davam espaço. Gritavam o tempo todo... logo Estêvão começava a dar lugar para as ilusões. Ninguém tinha explicado para ele o que estava acontecendo, então ele começou a fantasiar sua própria história em sua cabecinha... será que ele não estava morto, num limbo talvez? Mais tarde, bem mais tarde ele ficou sabendo que estava na emergência do “hospital”.

Explicação do capítulo 4: Um hospício, uma fábrica de ilusões

A ideia inicial deste capítulo é fácil de entender: mostrar a forma desumana em que profissionais de saúde mental estressados gritam com seus pacientes psiquiátricos, tratam-nos sem o merecido respeito e humanidade.

Depois há a menção da visão turva e as sensações estranhas. Efeito dos psicotrópicos, certamente. Mas uma vez há a menção ao fato desses profissionais imporem um "tratamento" e sequer explicar para seus pacientes o objetivo desse "tratamento".

Por fim, o capítulo busca mostrar o efeito contrário que esses hospícios causam: uma pessoa que não estava delirando passa a delirar devido ao tratamento indiferente oferecido nesses hospícios. Passa a mergulhar cada vez mais num mundo de ilusões.

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