Ao sair da internação em 2001 eu não tinha grandes planos. Só queria chegar algum dia a ser considerado SER HUMANO. Pois obviamente as pessoas não eram tratadas com humanidade nos manicômios. (E hoje, em 2013, ainda não são.) Eu pretendia estudar, não para virar o melhor profissional, etc. Mas apenas para poder pagar minhas contas e poder viver dignamente. Que contas eu teria para pagar? "Para que trabalhar se você pode se aposentar?", me diziam. Isso porque essas pessoas não podiam me ver por dentro, pois se pudessem ver, veriam que não é tão simples assim.
Eu iniciei uma batalha para que houvesse melhoras nos atendimentos psiquiátricos, simplesmente porque, em toda minha vida, eu poderia uma vez ou outra voltar a ser internado como paciente psiquiátrico. Eu apenas queria que não houvesse mais esses manicômios, e que pacientes psiquiátricos fossem internados em hospitais gerais, COMO TODOS OS OUTROS PACIENTES de qualquer doença, sem discriminação, sem exclusão.
Na época que eu deixei o manicômio Sanatório Rio de Janeiro em 2001, eu tinha quatro dentes em condições horríveis que mal me deixavam mastigar. Um desses dentes estava apenas o toquinho. Por volta do ano 2003, um dentista tirou seus pedacinhos que estavam em minha gengiva como uma lâmina, o dentista teve que tirar os pedaços desse dente quebrado com uma pinça. Na saúde pública os dentistas disseram que não podiam fazer as três operações de canal que eu precisava. Comecei a fazer canal num plano de saúde dentário econômico, como dependente de um familiar. Infelizmente o serviço desse plano de saúde dentário deixava muito a desejar e o barato saía caro. Nenhuma operação de canal que eu precisava foi concluída nesse plano dentário baratinho.
Por fim, em 2008 aproximadamente, através de meu trabalho, eu consegui dinheiro para pagar uma operação de canal com um dentista sério. Ficou faltando fazer as outras duas operações de canal. Graças a honestidade de um perito, eu consegui escapar do golpe da aposentadoria que um familiar estava tentando dar. Se esse familiar conseguisse me interditar, eu ia ter que pedir permissão para tocar no dinheiro da aposentadoria, como fizeram com um tio meu. Nessas condições eu não ia poder nem pensar em pagar dentista, pois esse familiar é muito econômico e não ia querer gastar tanto.
Em 2009 eu já estava sem trabalho no bagunçado projeto de trabalho da saúde mental pública, logo não pude fazer as outras duas operações de canal, mas mantive a esperança de um dia me sentir gente, pois os dois dentes que precisavam de operação de canal estavam mutilados e logo o curativo caiu e não dava para mastigar com eles e só me restavam dois molares para mastigar, um embaixo e um em cima.
Ainda em 2009 eu já não pensava mais em trabalhar no projeto da saúde mental pública, pois sua irregularidade é intolerável. Pretendia dar aulas e fazer serviços de Internet. Eu não cobraria por esses serviços, pois muitas pessoas não poderiam pagar por suas condições econômicas, e eu queria que meus serviços fossem acessíveis a todos. Por isso decidi que eu apenas deixaria uma caixa para doações VOLUNTÁRIAS.
Eu pretendia oferecer meus trabalhos no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e em casa. Porém encontrei má vontade da parte dos funcionários do CAPS, o que impossibilitou que eu continuasse lá.
Encontrei um familiar que foi contra que eu trabalhasse em casa. Então fui estudar para fazer um vestibular público. Porém não me deixaram estudar. Nesse ano 2013, passei por constrangimentos terríveis dentro de casa. Num desses constrangimentos, pedreiros começaram a derrubar a janela da cozinha no momento em que eu preparava meu jantar e estudava ao mesmo tempo. Ninguém tinha me falado que iam tirar a janela. Pedi que parassem, mas eles disseram que tinha sido o familiar que tinha mandado. O familiar em questão não estava presente. Derrubaram a janela, apesar de meus protestos, o fogão ficou cheio de entulho, e eu tive que fazer minha comida e comer assim mesmo. Num outro momento os pedreiros começaram a quebrar uma parede em cima do quarto onde durmo, num sábado, feriado de Finados, às 8h da manhã, sem nenhum aviso prévio.
Esses pedreiros são do bairro, da vizinhança, e têm muito preconceito contra pacientes psiquiátricos. Me chamavam de maluco dentro de minha própria casa.
Por isso, decidi levar adiante meu projeto de fazer serviços de Internet onde estou morando, apesar de tudo. Vou oferecer os serviços, falar sobre péssimo tratamento dado a doentes mentais na saúde pública e deixar o endereço deste blog e direi que no blog eles encontrarão o número de minha conta para que façam doações. Essa foi a forma que eu encontrei para combater o grande estigma que existe contra pacientes psiquiátricos em minha vizinhança.
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