15.11.13

Projeto SMS/CDI - Pós e contras

Este texto foi publicado no dia 07 de junho de 2009 em outro blog, e o link foi enviado para os educadores e profissionais responsáveis pelo projeto. Nota: abaixo eu coloquei um dos motivos que me fariam deixar o CAPS. Parece que eles acharam que eu estava blefando... parece que agora eles entenderam que eu NÃO BLEFO. NÃO CHANTAGEIO. NÃO FAÇO JOGUINHOS. Nota: só agora que eu percebi que eu coloquei "pós" em vez de "prós"! Eu vou deixar assim mesmo!

Escolas de informática para usuários de saúde mental - A tecnologia a serviço do doente mental

O projeto entre a Secretária Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e o Comitê para Democratização da Informática leva cursos de informática para pessoas em tratamento psíquico, pacientes psiquiátricos. Os professores (educadores) que dão as aulas são usuários de saúde mental e recebem uma bolsa de um salário mínimo aproximadamente.

Os cursos beneficiam 7 instituições psiquiátricas do Rio de Janeiro. Os cursos acontecem dentro do Instituto Municipal Philippe Pinel (Botafogo), Instituto Municipal Nise da Silveira (Engenho de Dentro), Centro de Atenção Psicossocial Rubens Corrêa (Irajá), Centro de Atenção Psicossocial Simão Bacamarte (Santa Cruz) e Centro de Atenção Psicossocial Profeta Gentileza (Inhoaíba). E acontecem nas proximidades do Centro de Atenção Psicossocial Ernesto Nazareth (Ilha do Governador) e do Centro de Atenção Psicossocial Lima Barreto (Bangu). E eu, Ezequiel de A.C., sou educador (professor) e ensino informática no Centro de Atenção Psicossocial Rubens Corrêa, em Irajá.

Por que é tão importante?

Escolas de informática dentro de hospitais psiquiátricos como o Instituto Nise da Silveira e o Instituto Philippe Pinel tornam o ambiente mais leve. O hospital passa a ter vida e conectividade. E ganha uma aparência de liberdade. A pessoa internada chega a esquecer que está num hospital.

Quanto aos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), posso dizer que antes da escola de informática o CAPS era apenas uma continuação do hospício. Não era ruim como o hospício porque havia liberdade. Mas além de liberdade o usuário precisa de uma atividade para levar o tratamento. O CAPS era uma continuação com mais liberdade, mas com menos recursos. Hospitais psiquiátricos como o Instituto Nise da Silveira e o Instituto Philippe Pinel eram chamados de hospícios pois há casos de abusos e maus-tratos em sua história. Mas hoje, graças a Reforma Psiquiátrica, insistimos em chamá-los de hospitais. Tanto o Nise quanto o Pinel têm muito mais opções que os CAPS (para mim, hospital psiquiátrico continua sendo hospício). Mas quando a escola de informática chegou um novo leque de opções surgiu. Os CAPS continuaram com menos recursos que muitos hospícios, mas com um novo fôlego.

Enquanto que o Instituto Philippe Pinel tem TV Pinel, Papel Pinel entre outras coisas, o Instituto Nise da Silveira tem a Radio Revolução FM, a editora Encantarte e o grupo Sistema Nervoso Alterado, os CAPS só têm as escolas de informática de atividade variada. Além das escolas de informática os CAPS não têm nada. Por isso que escolas de informática dentro dos CAPS é algo imprescindível.

Com os computadores nos CAPS aqueles usuários mais graves que não podiam sequer sair sozinhos podem mexer no computador. Quantas vezes usuários vieram me procurar dizendo que gostariam de mexer no computador porque no CAPS não tinha nada para fazer.

O que tem atrapalhado o projeto

As técnicas responsáveis pelo projeto não informam os educadores do que está acontecendo. Eu não sei porque isso acontece, já que as técnicas que ficam à frente do projeto são super-atuantes em suas instituições. Talvez seja porque elas estejam acostumadas ao modelo fechado de hospital psiquiátrico, onde elas trabalham.

Nós educadores não estamos acostumados a cobrar sobre como a organização do projeto acontece, como o dinheiro é investido, etc. Não cobramos uma transparência total. (O que não quer dizer que haja falta de honestidade, mas falta de cobranças.) Talvez tenhamos medo de fazer tais cobranças. Isso é uma falha que atrapalha no andamento do projeto e prejudica diretamente os educadores. Como da vez que os responsáveis pelo projeto não sabiam quanto dinheiro tinha em caixa e os educadores ficaram sem receber (vindo a receber meses depois, não graças à SMS, mas graças ao CDI). Se os educadores tivessem cobrado certamente não haveria tal esquecimento.

Além disso os técnicos fazem reuniões e tomam decisões sem a participação dos usuários de saúde mental. Me parece que esses profissionais de saúde mental ainda usam um modelo bem discriminatório e exclusivo.

Os usuários de alguns CAPS foram prejudicados, pois não há escolas de informática lá dentro. Como, por exemplo, o CAPS Lima Barreto e o CAPS Ernesto Nazareth. Nesses casos as escolas de informática são dentro de igrejas. Já não são escolas de informática dos usuários de saúde mental. São escolas de informática das igrejas.

Usuários graves que poderiam se beneficiar do computador saíram perdendo. Pois muitos usuários não sabem andar por aí, não sabem sair do CAPS sozinhos. E alguns até sabem, mas não são sequer permitidos a andar sozinhos muito menos sair do CAPS. E mesmo se houvesse técnicos para levar esses usuários para ver os computadores fora do CAPS eles não seriam atraídos naturalmente.

Nada melhor para atrair a pessoa do que ela ver o movimento da escola de informática enquanto ela está esperando pela medicação. No CAPS. A grande vantagem das escolas de informática dentro de instituições psiquiátricas é que pessoas da comunidade vêm fazer curso dentro das instituições e veem que o ambiente dos usuários de saúde mental não é violento e totalmente insano, como algumas pessoas pensam. Foi uma falha dos técnicos responsáveis por esses CAPS não garantir uma escola de informática dentro das instituições.

Mas em vez dos profissionais de saúde mental dos CAPS buscarem sanar esse problema eles planejam tirar as escolas de informática de todos os CAPS e outras instituições psiquiátricas. Eles acham que colocando as escolas de informática fora dos CAPS os usuários serão forçados a sair do CAPS para fazer o curso, ganhando assim autonomia e saindo do ambiente do CAPS e conhecendo novos ambientes da comunidade. Por que é que eles não fazem atendimentos fora do CAPS para atrair os usuários para novos ambientes? Por que não fazem dispensação de medicação numa padaria, por exemplo? Assim os usuários iam ser atraído para ambientes fora do CAPS.

Talvez a ideia funcionasse, se os técnicos das instituições psiquiátricas levassem seus usuários para o curso de informática fora da instituição psiquiátrica. Eles não estão conseguindo acompanhar os usuários nem nas tarefas dentro do CAPS, imagine tarefas fora do CAPS. Mesmo se tal ideia de escolas de informática fora das instituições psiquiátricas for benéfica mesmo é necessário consultar TODOS os usuários de saúde mental para saber o que cada um acha sobre isso. Tal coisa só pode ir para frente com o consentimento dos usuários. Nem é necessário dizer que eles nunca pediram a opinião sobre isso aos usuários dos CAPS e das instituições psiquiátricas. Claro que não! Se eles (usuários) não tem autonomia, não podem decidir onde deve ficar sua escola de informática...

Mas o que eu vejo é que tirando as escolas de informática de dentro dos CAPS os técnicos terão mais espaço para fazer seus atendimentos. Os psiquiatras e psicólogos terão mais espaço para fazer seus atendimentos. Eles fazem isso por total desconhecimento das necessidades dos usuários. Estão é acabando com os objetivos originais dos CAPS. Se a intenção deles é verdadeiramente boa, por que eles não lutam pela criação de CAPS III no município do Rio de Janeiro? (Nota: na época deste texto ainda não havia CAPS III no município do Rio.) Em vez de tirar o que a gente tem? Esses CAPS III poderiam substituir os hospícios ainda remanescentes (Como o Instituto Philippe Pinel e o Instituto Nise da Silveira).

Claro que se tirarem essas escolas de informática de meu CAPS eu não terei mais motivo para continuar no CAPS. Pois pensava em trazer mais atividades para o CAPS, como, por exemplo, um curso de inglês. E se tirarem o curso de informática para gerar "autonomia" para os usuários, não me deixariam trazer um curso de inglês para dentro do CAPS. Esse é um de meus projetos para levar variedade ao CAPS.

Além da escola de informática o CAPS não tem nada, além de medicação e boa vontade de alguns profissionais. Se uma coisa dessas acontecesse eu ficaria profundamente decepcionado com esses profissionais de saúde mental do setor público. E deixaria o tratamento no setor público e iria procurar outras formas de cuidado, outros médicos, outros terapeutas. Ou talvez ficasse sem tratamento mesmo. Não sei. Essa é uma decisão para depois.

Falha na inclusão digital dos próprios educadores

Para essa falha eu deixo uma sugestão. Pois alguns educadores de escolas de informática sem Internet ficaram para trás, desatualizados. Num mundo em que se fala o tempo todo em e-mail, MSN, Orkut, como é possível um educador ficar por fora em matéria de Internet? Para sanar esse problema bastaria fazer que os educadores das escolas sem Internet fossem dar aulas nas escolas com Internet por umas temporadas. E da mesma forma, os educadores das escolas com Internet iriam dar aulas nas escolas sem Internet. Uma troca.

2 comentários:

  1. Muito bacana e muito importante esse post!

    Posso ter a sua permisão usar algumas citações suas para o relatório que estou desenvolvendo no CDI? Depois vou passar para você para solicitar a sua opinão.

    Bjs/Abs,
    Liz

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  2. Obrigado pela consideração, Liz. E pode usar quantas citações quiser.

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Eu sempre publicarei todo tipo de opinião e ponto de vista. que NÃO INFRINJAM AS LEIS DO MUNDO, nem as leis da Internet.

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As informações dispostas aqui são CONFIRMADAS através de várias fontes. A qualidade obtida aqui não se consegue da noite para o dia, mas sim de uma experiência de VÁRIOS ANOS.

Portanto, se houver algo a ser corrigido aqui, publique nos comentários, mas COM PROVAS, como eu faço.

Algumas pessoas, ao tomar medicações psiquiátricas ou drogas ilícitas, não sofrem efeitos adversos significativos (como vemos algumas pessoas que fumam a vida toda e morrem de velhice.) Portanto verei como normal algumas pessoas dizerem que nunca sentiram nenhum efeito colateral ao tomar determinado psicotrópico.

Mas qualquer indivíduo que escrever algo contra as informações técnicas mostradas aqui deve PROVAR IMEDIATAMENTE na mesma mensagem, do contrário terei que deletar.

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